ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Câmera como Olhar, Não Apenas Espelho: Linguagem Audiovisual e Youtube |
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Autor | Marco Antonio Pereira do Vale |
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Resumo Expandido | Na presente proposta de apresentação, tenho o objetivo de promover uma reflexão sobre a importância da construção narrativa audiovisual de produções feitas para o YouTube. Esta apresentação é fruto de uma pesquisa, que estou desenvolvendo atualmente, com o apoio do Centro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP) da Faculdade Cásper Líbero. Baseando-me principalmente na obra do teórico norte-americano David Bordwell, aqui discutirei como conceitos narrativos de variação de enquadramentos e ângulos de câmera, para retratar uma mesma ação, e a construção de continuidade temporal pela montagem estão sendo usados por realizadores digitais, tais como Felix Kjellberg, Raony Phillips e Patrick Willems. Conhecido como PewDiePie, o sueco Felix Kjellberg é um dos youtubers mais assistidos no mundo: seu canal no Youtube tem mais de 60 milhões de inscritos atualmente. Na maioria dos vídeos de PewDiePie, a linguagem audiovisual é bastante simples, como a da maioria esmagadora de youtubers espalhados pelo mundo. Mas em alguns momentos, podemos perceber esboços de uma linguagem audiovisual mais narrativa sendo articulada. Por exemplo, podemos ver que ações são constante cortadas, em continuidade, para enquadramentos cada vez mais fechados, mesmo que os últimos apresentam uma considerável perda de definição da imagem. Tratam-se de enquadramentos feitos na edição, através de zoom in digital, não durante as gravações. Apesar de não se enquadrar dentro de padrões de qualidade técnica de mídias audiovisuais mais tradicionais, estes momentos revelam que o youtuber tem consciência de que se ele não articular uma linguagem mais visual nas suas produções, a chance de os internautas somente ouvirem seus vídeos será maior, enfraquecendo o poder de comunicação de uma mídia audiovisual como o YouTube. Neste contexto, outro youtuber tem se destacado: Patick Willems. Este realizador norte-americano produz trailers paródicos de filmes de super-heróis, se os mesmos fossem dirigidos por cineastas de filmes de arte, tais como Ingmar Bergman, Werner Herzog ou Wes Anderson. A imitação paródica dos estilos é realizada através de recursos de encenação, fotografia e montagem feitos por Willems e sua equipe. Em um recente vídeo ensaístico, Patrick Willems comenta que cada vez mais procura enquadrar seus comentários de youtuber em um formato narrativo, com o uso do humor e da paródia para ajudar a sustentar o conjunto. Desta forma, Willems, sintetiza sua inquietação criativa com a seguinte pergunta: “Why not discuss film making with film making?”. No Brasil, o desejo de apropriação criativa dos recursos expressivos da linguagem audiovisual clássica aparece de forma surpreendente no canal, do Youtube, “Rao TV” de Raony Phillips. Sem usar uma única câmera, inicialmente por falta de recursos econômicos, Phillips construiu a longeva série cômica “Girl in the House” só usando um computador. Todas as imagens são capturadas do famoso videogame “The Sims”, em que o jogador controla não só os deslocamentos dos personagens nos cenários, mas também os figurinos usados pelos mesmos e a movimentação da câmera virtual que captura a ação. Com estas ferramentas em mãos, Phillips manipula os avatares do jogo como se fossem o elenco de uma série de TV e constrói uma decupagem de ângulos, enquadramentos e movimentações de câmera que emulam a linguagem de um típico sitcom televisivo. Por fim, os vídeos são dublados com diálogos absurdos, mas que respeitam uma continuidade de ação dramatúrgica da série, que já está na sua quarta temporada. Atualmente, “Rao TV” conta com mais de um milhão e meio de inscritos no Youtube. Mais do que somente tema para discussões acaloradas entre youtubers, a linguagem audiovisual está sendo criativamente apropriada pelos realizadores de conteúdos analisados nesta pesquisa. Tendência esta que evidencia a vocação do YouTube como um poderoso veículo de transmissão de propostas independentes de narrativas cada vez mais longas, ambiciosas e sofisticadas. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O Cinema e a Encenação. Lisboa: Texto & grafia, 2006. |