ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Intensidades do tempo em Bill Viola: articulações na história |
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Autor | Christine Pires Nelson de Mello |
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Resumo Expandido | Desde os anos 1970, quando Bill Viola (Nova Iorque, 1951) descobriu a imagem e som em movimento para explorar diferentes estados da experiência humana, seus trabalhos têm sido uma das principais referências na contemporaneidade diante das intensidades e afecções que permeiam o tempo, relacionadas ao campo da imagem e som, à experiência corpórea e à tomada de contato com o outro. Problemas como esses relacionados às experiências do tempo concernem às crises da duração e da participação, compreendidas em torno do efêmero na atualidade. Sob essas condições, a experiência do tempo se dá na sua realidade provisória, na temporalidade intensiva de sua relação com o corpo. A obra de Bill Viola compreende o tempo em sua dimensão intensiva por meio de planos de contato que estabelece entre corpo, imagem, som e ambiente. Implica, portanto, observar a capacidade que a experiência do tempo tem de se apresentar e ativar sentidos no outro. Implica experimentar a ativação do outro pelo vídeo e o corpo em performance. Reconfigurações do tempo normalmente dizem respeito às transformações sociais, culturais e perceptivas. Parte considerável do desenvolvimento de sua problemática ocorre em sociedades que privilegiam as práticas imateriais, como as promovidas pelo pensamento na civilização grega, pela velocidade na Revolução Industrial e pelos fluxos informacionais na cultura digital. Desde a Antiguidade são produzidas imagens do tempo. Elas são determinadas, sobretudo, pelo deslocamento do corpo no espaço e pela temporalidade da imagem. O transitório é apresentado ao longo da história da arte tanto por meio de linguagens mais tradicionais como a escultura, a pintura e a arquitetura quanto por meio da fotografia, cinema, vídeo, performance, instalação, linguagens digitais e interatividade. Ações temporais e efêmeras na arte são experiências tipicamente associadas aos séculos 20 e 21. Seu legado mais recente invoca procedimentos desmaterializantes dos anos 1960 e 1970, relacionados ao neoconcretismo, à comunidade de artistas Fluxus, à arte conceitual e à crítica institucional, sob a forma de manifestações com o corpo, com o vídeo, com o tempo real, entre outras. Invoca também procedimentos desmaterializantes dos anos 1980 e 1990, relacionados, por exemplo, aos ambientes imersivos e às plataformas comunicacionais on-line. Com as intensidades do tempo presente no cinema e na arte ocorrem transformações como: deslocamentos para práticas vitais; transfigurações do corpo; a imagem é dada como provisória; ativações do campo sonoro; trabalhos que friccionam a duração; o processo é privilegiado em detrimento à obra acabada; noções de circuito são enfatizadas; obras solicitam a participação do público; articulações a partir dos espaços sociais; práticas que envolvem a performance, o espaço midiático e a interatividade ressignificam o ambiente artístico. Tais ações refletem modificações simultâneas entre arte, cinema, cotidiano e sensibilidades. O efêmero no cinema e na arte é visto assim como campo de tensão e como experiência do nosso tempo. Em suas obras recentes, Bill Viola tem como prática explorar os recursos mais avançados da imagem e som em ambientes digitais, por meio do uso de câmera lenta, duração estendida e efeitos de suspensão do tempo. Para ele, paradoxalmente, são esses estados de exceção da vivência do tempo que permitem abrir o corpo para o plano do contato e das afecções, para os atos de entrega diante da experiência imanente. Buscamos aqui compreender intensidades do tempo em suas relações com o campo da percepção sensória, no sentido de refletir sobre experiências intensivas em Bill Viola. O objetivo é pensar problemas do tempo concernentes ao cinema e à arte contemporânea que afetam a produção artística atual. |
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Bibliografia | MELLO, Christine. Cinemáticas. In: SANTAELLA, Lucia; ARANTES, Priscila (org). Estéticas tecnológicas: novos modos de sentir. São Paulo: Educ, 2008. pp. 149 - 162. |