ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | O “Estado promocional” americano e o mercado de exibição no Brasil |
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Autor | Pedro Butcher |
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Resumo Expandido | A partir de 1890, os Estados Unidos iniciaram um processo de expansão econômica e cultural que se intensificou a partir da eclosão da Primeira Guerra Mundial. A ampliação do comércio internacional americano se inseriu em um movimento de caráter mais amplo, cuja base ideológica foi o “desenvolvimentismo liberal” e sua crença quase religiosa de que “o mundo ideal seria um grande mercado aberto” (ROSENBERG, 1982, p. 16). “Os comerciantes americanos trariam melhores produtos para um maior número de pessoas; os investidores americanos ajudariam no desenvolvimento das potencialidades nativas; os reformadores americanos – missionários e filantropos – erradicariam culturas bárbaras e gerariam compreensão internacional; a cultura de massa americana, trazendo entretenimento e informação para as massas, homogeneizaria os gostos e quebraria as barreiras de classe e geográficas. (…) Os três pilares liberais – comércio e investimento irrestrito, livre iniciativa e livre fluxo de intercâmbio cultural – tornaram-se a justificativa intelectual para a expansão americana” (idem, p. 36-37). O cinema se tornou uma das forças motrizes do avanço planetário dos Estados Unidos, e a América Latina foi um de seus alvos prioritários (THOMPSON, 1986, p x). Apesar de o desenvolvimentismo liberal ter entre seus pilares ideológicos o livre fluxo de mercadorias e a não-intervenção governamental, um amplo sistema de estímulo e apoio à expansão da indústria e do comércio foi montado pelo Estado americano – um aparato batizado por Emily Rosenberg de “Estado Promocional”. “Operando com base na suposição de que a crescente influência de grupos privados no exterior aumentaria a posição estratégica e econômica do país, o governo gradualmente erigiu um ‘estado promocional’, desenvolvendo técnicas para ajudar os cidadãos que operavam no exterior e mecanismos para reduzir as restrições estrangeiras contra a penetração americana” (ROSEMBERG, 1982, p. 38). Já a partir da última década do século XIX, o Departamento de Estado dos EUA encomenda a funcionários de seus consulados no exterior relatórios sobre os mais variados aspectos da economia e política locais. Aos poucos, essa estrutura cresce e se sofistica, com a criação do Departamento de Comércio, em 1903, do Escritório de Comércio Exterior (Bureau of Foreign and Dommestic Commerce), e, um pouco adiante, em 1926, da divisão voltada para a indústria cinematográfica (JARVIE, 1992, p. 310). Paralelamente, a indústria cinematográfica americana consolida sua posição no mercado interno e inicia um intensivo processo de expansão estrangeira. Para defender os interesses do conjunto da indústria, seus principais agentes criam a Motion Pictures Producers and Distributors Association of America (Associação dos Produtores e Distribuidores de Cinema da América), que estabelecerá uma estreita relação com o Departamento de Estado e o Departamento de Comércio americanos. A partir da década de 1920, os consulados dos Estados Unidos no Rio de Janeiro e em São Paulo começam a produzir relatórios mensais e anuais cobrindo a atividade cinematográfica no país, incluindo informações sobre filmes lançados, censura, presença da cinematografia de outros países, produções nacionais, tarifas de importação, mudanças na legislação e, sobretudo, o perfil e a evolução do mercado de exibição local. Às vezes, o governo americano solicitava relatórios específicos, como o que descreve o ascendente mercado de exibição em São Paulo, entregue em setembro de 1924, fornecendo informações detalhadas sobre as salas de cinema, seus proprietários, e a capacidade de assentos de cada sala. Este trabalho analisa os relatórios sobre o mercado cinematográfico no Brasil elaborados pelos consulados de São Paulo e do Rio de Janeiro entre os anos de 1922 e 1929 – particularmente os que tiveram como foco o mercado exibidor. |
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Bibliografia | GONZAGA, Alice. Palácios e poeiras: 100 anos de cinemas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Record, Funarte, 1996. |