ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | MONTAGEM ACELERADA E TENDÊNCIAS ESTILÍSTICAS EM DESPERTAR DOS MORTOS |
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Autor | Filipe Tavares Falcão Maciel |
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Resumo Expandido | A questão da montagem e da aceleração do fluxo narrativo no cinema costuma ser apontada por pesquisadores como Barry Salt (2009) e David Bordwell (2006) como cada vez mais rápida desde a década de 1950. Por meio do Average Shot Lenght, ou ASL (em português, Duração Média do Plano), Salt (2009) propõe contar a quantidade de planos de um filme e dividir pelo tempo de duração do título. O cálculo é feito no site www.cinemetrics.lv. Entre 1946 e 1951, o ASL médio dos filmes era de 10,47 segundos. Com o passar dos anos este número diminuiu sendo 10,13 entre 1952 e 1957; 8,80 entre 1958 e 1969; 6,63 entre 1970 e 1975; 6,55 entre 1976 e 1981; 6,12 entre 1982 e 1987; 5,85 entre 1988 e 1993 e 4,49 entre 1994 e 1999. Quanto menor é o ASL, mais curta é a duração dos planos no filme e isto pode tornar a montagem mais rápida e o fluxo narrativo mais acelerado. Bordwell (2006) destaca também a quantidade de planos por obra. Os filmes tinham entre 300 e 700 planos entre 1930 e 1950. Este número aumentou nas décadas de 1960 e 1970 para entre 500 e 1.200 enquanto os anos 80 e 90 traziam títulos que alcançavam facilmente 1.500 planos. O século XXI trouxe o que Lipovetsky e Serroy (2009) chamam de hipercinema, que, entre outras características, é marcado por uma edição extremamente rápida, com filmes cujos números de ASL chegam a menos de 3 segundos como em Os vingadores, de 2012, com 2,8; X-men – dias de um futuro esquecido, 2014, 2,9; e Mad Max – estrada da fúria, 2015, 2,6. Dentro deste panorama da montagem e da aceleração do fluxo narrativo, é possível encontrar filmes que são identificados como pontos fora da curva. Despertar dos mortos, de George Romero, representa uma singularidade dentro destas exceções. Lançado em 1978, possui 3303 planos e ASL de 2,5 representando um filme com montagem extremamente rápida para o período, que era de 6,55, e antecipando em cerca de três décadas as tendências contemporâneas de duração e quantidade de planos. O filme acompanha quatro pessoas em fuga dos zumbis em um shopping. Despertar dos mortos faz parte da chamada trilogia clássica de zumbis dirigida por Romero junto com A noite dos mortos-vivos, 1968, e Dia dos mortos, 1985. Os filmes não apenas fizeram sucesso como geraram importantes convenções de gênero ao definirem o comportamento dos zumbis ao mesmo tempo em que trouxeram leituras de questões sociais. Coube ao próprio Romero a tarefa de editar o filme. Em seu currículo, ele foi responsável pela montagem de nove produções e embora algumas tenham ASL próximos, como Season of the witch, 3,6; O exército do extermínio, 2,8; Martin, 4; e Cavaleiro de aço, 3, Despertar dos mortos foi claramente o caso mais extremo. Desta forma, a proposta deste trabalho é fazer uma análise minuciosa da montagem e do fluxo narrativo para pontuar os motivos que levaram Romero a fazer um filme tão acelerado. Existem outros elementos que devem ser analisados para compreender a montagem e o fluxo narrativo como movimento de câmera, movimento dentro do quadro fílmico, fragmentação da trama, eventos sonoros, mise-en-scène, entre outros. A escolha por planos curtos parece dialogar com tentativas do diretor de disfarçar a precariedade do orçamento de US$ 500 mil. Identificamos, por exemplo, que dos 3303 planos, um total de 2830 foi feito com a câmera fixa. Ou seja, o filme não possui travelling ou grua, o que aumentaria o custo. Para evitar que a quantidade de planos estáticos gerasse um ritmo lento, Romero optou não apenas por usar planos curtos, entre cinco, três e até um segundo, mas por mostrar estes com movimentos dentro do quadro fílmico. Acreditamos que os dados coletados neste estudo nos colocam diante das decisões estilísticas do diretor dentro do que Bordwell (2009) chama do paradigma problema/solução. Trata-se do processo de contar uma história em um meio audiovisual com o realizador fazendo escolhas baseadas em um repertório disponível. Neste caso, nada melhor do que o diretor também ser o editor. |
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Bibliografia | AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto&Grafia, 2010 |