ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Meu nome é ninguém: imagem, (re)existência e luta política. |
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Autor | Roberto Robalinho Lima |
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Resumo Expandido | João Moreira Salles no seu filme No intenso agora (Brasil, 2017) comenta a imagem de um filme inacabado feito por estudantes durante as agitações de Maio de 68. Na imagem uma mulher jovem se recusa a voltar à trabalhar na fábrica após o término da greve. João, na sua narração, ressalta o choro da mulher e a tristeza, ressaca, após tantos dias de luta e utopia. A cena marca no filme o fim das agitações e o retrocesso de voltar à fábrica, cena que é inversa àquela que é considerada a primeira imagem realizado pelo aparato cinematográfico dos irmãos Lumière – o conhecido plano dos trabalhadores saindo da fábrica. Porque para João esta cena incorpora o fim, a melancolia, a ressaca dos que lutaram? Não poderia o gesto da jovem mulher significar a potência dos que se recusam a se conformar e dos que dizem, nossa vida jamais será a mesma? Em artigo escrito para a Folha de São Paulo em julho de 2013 Peter Palbert cita a resposta de uma manifestante mascarada à pergunta fatídica – quem é você? Ela diz – anota aí, eu sou ninguém. Palbert enfatiza como essa recusa identitária não é apenas potência política, mas um campo de luta que desarma as estratégias de captura e dessubjetificação do Estado. A jovem quando recusa seu nome propõe outra forma de ser sujeito, propõe uma ação política. De certa forma, repete o gesto de recusa da jovem operária que não apenas recusa entrar na fábrica, mas após um processo intenso de ação política e invenção subjetiva que foi Maio de 68, recusa voltar a ser o mesmo sujeito. João Moreira Salles ao olhar Maio de 68 a partir de suas imagens vê um esgotamento da sua forca política. Processo análogo de como parte da esquerda enquadrou os protestos de Junho de 2013 como uma forca política que se dissipa. A proposta desta comunicação é pensar na contramão destes olhares e apontar para a potência política que reside nestas imagens que agenciam uma invenção subjetiva e um espaço de criação política durante os protestos. Se há efetividade política nestes acontecimentos, ela não se dá pelos resultados institucionais, mas por tudo que se inventou enquanto se foi as ruas lutar ou como dirá Deleuze sobre Maio de 68, “ O acontecimento cria uma nova existência, ele produz uma nova subjetividade (novas relações com o corpo, o tempo, a sexualidade, os arredores próximos, com a cultura, o trabalho...).” (2007:232). Proponho aproximar algumas imagens dos filmes operários do grupo Medvedkine de Maio de 68 com as imagens em torno do processo político e subjetivo desencadeado pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo durante os protestos de Junho de 2013 no Rio de Janeiro. O caso Amarildo aponta para um processo radical de invenção subjetiva que podemos chamar de (re)existência em que seu rosto incorpora as vidas nuas e precárias da cidade para se tornar ação política (Palbert 2013, Agamben 2008 e Butler, 2004). As imagens e os gestos nas ruas, nesse caso, agenciam um movimento triplo, colocam em cena a violência policial, desorganizam uma ordem sensível da cidade em que Amarildo estava destinado a apenas desaparecer e dão a multidão incógnita um rosto capaz de expressar todo o desejo e descontentamento das ruas. Algumas questões estéticas e políticas nos mobilizam nessa apresentação, quais as continuidades e descontinuidades dos gestos políticos de Maio de 68 com Junho de 2013 é possível pensar a partir desse grupo de imagens? Como um espaço de violência, de precariedade, tanto das vidas operárias, como na favela , como é o caso de Amarildo, se tornam um espaço de invenção subjetiva e ação política? Se trata de pensar como estratégias de luta, gestos políticos, presentes em Maio de 68 se atualizam em Junho de 2013 através de um processo de (re)existência agenciado pelas imagens que apontam não para o fim, o esgotamento, mas para uma invenção política e um campo de possibilidades. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. Boitempo Editorial, São Paulo, 2008. |