ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | 1968 – O Silêncio de Glauber. |
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Autor | José Umbelino de Sousa Pinheiro Brasil |
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Resumo Expandido | Numa carta escrita em 28 de dezembro de 1980 enviada de Paris a Carlos Augusto Calil, à época Diretor da Embrafilme, Glauber Rocha dava instruções, demarcando e precisando como poderia ser a preservação dos seus filmes e documentos. Num trecho se deteve sobre um registro documental de uma das manifestações políticas ocorrida no Rio de Janeiro. Escreveu, Glauber: “1968. Copiões mudos em 35mm na Cinemateca. Contratipar. O filme está pronto. É mudo. Segue o curso das filmagens. Só precisa botar o título 1968 de Glauber Rocha e Afonso Beato”. Anos depois, após a morte de Glauber, precisamente em 24 de janeiro de 1985, Afonso Beato, co–autor do referido trabalho, declarou: “Eu não posso precisar nem o mês nem qual das passeatas foi filmada, não me lembro. Glauber queria fazer um filme sobre aquele momento, mas ainda não tinha um projeto ficcional, fizemos apenas um registro documental. A repressão política e a falta de liberdade de expressão impediram a continuidade do projeto. Em fins de 1969, Glauber e eu saímos do país.” 1968 é um filme de improviso em que a ideia na cabeça não estava configurada em sua totalidade, restou a câmera na mão como modo de registro de uma encenação dramática interpretada por seus inúmeros figurantes que desfilavam e desafiavam a ordem política reacionária e conservadora, mas não posavam para a câmera que estava ali presente e roubava os seus corpos, captados de uma maneira que remete à empregada pelos irmãos Lumière quando estes haviam feito o inaugural “A saída dos Operários da Fábrica”. O improviso de 1968 foi precedido pela ficção “Câncer” e sucedido pelo documentário “Di Cavalcanti ou Di-Glauber ou Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera; somente a ingratidão, essa pantera, foi a sua inseparável companheira”. O improviso ao ser tomado como um paradigma pode ser interpretado como uma indicação glauberiana de que na feitura de um filme o autor pode e deve seguir vários caminhos. Percursos que se bifurcam, inexoravelmente, entre a ideologia e a tecnologia. A respeito da opção entre a ideologia e a tecnologia, Glauber afirmava em entrevista dada a Federico Cardenas e René Capriles, publicada em Revolução do Cinema Novo “a tecnologia resolverá muitos problemas que a ideologia não solucionará, pois a ideologia tende a ficar como problema filosófico, ético, desligado do fenômeno socioeconômico… temos de ver que a tecnologia vai ser a ideologia do futuro“. (Rocha, 2004: 179). Nesse sentido, discutimos a utilização do aparato tecnológico no documentário 1968, e a consequência da sua ausência, levando em consideração que temos apenas imagens não precedidas ou amparadas pelo som. Ampliamos o leque das indagações, ao questionar o autor Glauber Rocha e o co–autor Afonso Beato, por razões expostas por ambos, que consideram o filme pronto para ser exibido e, nesse caso, caberia aos espectadores a imersão através do silêncio das imagens entendendo toda a sua dimensão ideológica. Por fim, ingressamos na representação do filme observando os seus significados e chaves de interpretação já percorridas abrindo possibilidade para percursos interpretativos que o filme ainda possa convocar na atualidade. Resumindo, abordaremos “1968” como um dos trabalhos glauberiano pouco discutido e escassamente tratado como proposta de estudo e análise por estudiosos e pesquisadores, sendo apenas citado como um mero exercício praticado por Glauber Rocha e Afonso Beato. |
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Bibliografia | Bernardet, Jean-Claude.2003. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras. |