ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | O uso eficiente do foto-filme no cinema de Kleber Mendonça Filho |
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Autor | Reginaldo do Carmo Aguiar |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem como objetivo avaliar o uso e a apropriação de imagens fixas (imagens de arquivo, fotografia clássica, fotojornalismo e fotografia gravada em modo de vídeo) montadas em movimento, somada a algum tipo de banda sonora nas cinco películas mais conhecidas (3 curta metragens e 2 longa-metragens) do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho. Este estudo se volta para o pensamento e elaboração do foto-filme, demonstrando a valorização desta montagem como parte fundamental na ampliação e percepção e para compreender melhor as técnicas de transmídia utilizadas pelo diretor. Foi avaliado também o conteúdo da narrativa fotográfica e as emoções produzidas no espectador para avaliar a estratégia e a eficiência do diretor ao fazer o uso dos foto-filmes. Mendonça vem ganhando destaque no cinema contemporâneo brasileiro, principalmente por produzir filmes com um caráter mais politizado, onde aborda temas caros como a urbanização descontrolada, o clima, a violência e o povo brasileiro. A arte contemporânea no final dos anos de 1960 e a emergência da imagem digital a posteriori resultou em uma abordagem transmídia. Neste caso a criação do foto-filme (Bellour, 2012; Elias, 2016), o foto-jornalismo expansivo enquanto cinema expandido (Youngblood, 1970; Barbalho, 2016) e o “filme de arquivo” na mesa de montagem, na combinação de imagens, palavras e sons (Bernadet, 2000) formam uma nova forma de fazer cinema na contemporaneidade. Dentro destas possibilidades os filmes analisados foram: Vinil Verde, Eletrodoméstica, Recife frio, O som ao redor e Aquarius. O trabalho focou nas variáveis visuais (localização, conteúdo, duração e cor) e sonoras (melodia, letra, ruídos etc.) das imagens fixas em movimento. Para a análise foi utilizado a teoria e prática fílmica do livro “Praxis do cinema” de Noël Burch. Para Burch, forma e conteúdo estão intrinsecamente ligados, sendo que um influencia o outro, pois os dois não podem ser entendidos separadamente. Interessa-lhe salientar como o som dialoga com as imagens em movimento, partindo do princípio de que ele tem o mesmo poder sugestivo de significados que a imagem e, por isso, contribui para a composição de uma ideia que pode concordar ou discordar (dialogando) com o que é visto. Além disso, foi analisado algumas estruturas dialéticas no filme, tais como: a relação duração-legibilidade, a oposição preto e branco versus colorido, som e imagem etc. Isto porque para Burch, é fundamental que o filme se valha de uma construção dialética, e todos os bons filmes, segundo ele, contêm tais estruturas dialéticas. Por fim, O uso do foto-filme por Mendonça revelou uma estratégia inteligente no sentido de apresentar um conteúdo de forma eficiente e rápida para ganhar tempo, contextualizar assuntos relevantes, diminuir custos de produção, estabelecer memórias e conexões e como recurso para produzir emoções aversivas - sensação predominante de terror, medo e suspense - diante de imagens que revelam o ambiente social das pessoas. Além disso, o contexto estético-social- político de seus foto-filmes tem alto teor político ora explícitos, ora implícitos, estando por entre linhas, em detalhes de imagens ou mesmo pontuados pela narrativa sonora. Em alguns destes filmes as imagens de arquivo são de fatos reais e em conjunto com a banda sonora exploram a fronteira entre o documentário e o ficcional construindo narrativas e subjetivações específicas. Portanto, o foto-filme de Kleber Mendonça fortalece a velha máxima glauberiana - uma câmera na mão e uma ideia na cabeça - de que é possível fazer um cinema crítico, criativo e com poucos recursos financeiros. |
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Bibliografia | BARBALHO, Marcelo. Som e movimento na expansão do fotojornalismo. XXV Encontro anual da Compós, 2016. Anais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2016. |