ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Mundos possíveis na ficção científica: analisando Stranger Things |
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Autor | Jéssica Maria Brasileiro de Figueiredo |
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Resumo Expandido | A partir da noção de “mundo estruturalmente possível” e as considerações sobre ficção científica propostas por Umberto Eco (1989), este trabalho busca verificar como a série Stranger Things (2016-presente) desenvolve dois mundos que se cruzam e permitem a passagem de um para outro, além de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por uma personagem. A noção de mundos possíveis na ficção é uma adaptação do conceito de Mônada, desenvolvido por Leibniz (1646-1716), abordado na lógica modal por filósofos como Lewis (1968), e revisto na teoria literária por Eco (1989), Ryan (1992), Doležel (1998) e outros autores. O fundamento do conceito aborda a criação de mundos possíveis a partir de constatações semânticas contrafactuais. Trata-se de contrafactos modais criados a partir de um exercício mental de confabulações (LEWIS, 1968) que consideram como o mundo poderia ter sido. Seriam atestações como “Se Napoleão não tivesse invadido a Rússia, ele seria imperador até a sua morte” (RYAN, 1992). Tais contrafactos fazem surgir mundos possíveis, que têm existência particular e ontológica (DOLEŽEL, 1998). No campo da ficção, podemos observar que cada narrativa constrói em si um mundo possível, o qual Eco (1989, p. 166) chama de “mundo estruturalmente possível”. Segundo o autor, até a mais realista das obras “delineia um mundo possível enquanto este apresenta uma população de indivíduos e uma sequência de estados de fato que não correspondem aos do mundo da nossa experiência”. Nas obras realistas, o mundo possível é semelhante ao real. Nas histórias de fantasia e ficção científica, o mundo é estruturalmente diferente deste que vivemos, e nele há elementos extraordinários, como pessoas com poderes telecinéticos e monstros. De acordo com Ciro Cardoso (2006), o que diferencia a fantasia da ficção científica é que esta última busca explicações teóricas ou científicas para justificar a ocorrência dos eventos extraordinários. Diversas histórias de ficção científica relatam a existência de mundos paralelos, mostrando a não só sua existência, mas também a possibilidade da passagem de um para outro. Como relata Eco (1989), tal possibilidade é apresentada sempre com base na extrapolação de estudos científicos reais do nosso mundo, criando situações que poderiam acontecer caso certas tecnologias avançassem de tal modo capaz de transformar estruturalmente o mundo que habitamos. Em Stranger Things, o desaparecimento do garoto Will Byers desencadeia uma investigação que abre portas para diversas descobertas científicas e leva ao encontro com Eleven, uma garota com poderes telecinéticos. A série se passa nos anos 1980 e foi inspirada no projeto Montauk, da mesma época, que fazia testes em humanos, lidava com viagens no tempo e tecnologias alienígenas (WHITE, 2017). Sendo uma ficção científica, Stranger Things se dispõe a apresentar dois mundos paralelos: Hawkins e o Mundo Invertido. Estes mundos se entrcruzam, permitindo a passagem de um para outro e ainda a existência de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por Eleven. Diante deste contexto, o objetivo desta comunicação é verificar como se dá a existência desses dois mundos no desenrolar narrativo da série, a partir da investigação do paradeiro de Will Byers. |
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Bibliografia | CARDOSO, Ciro Flamarion. Ficção científica, percepção e ontologia: e se o mundo não passasse de algo simulado? História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Niterói, v. 13, p. 17-37, outubro 2006. |