ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Relações de gênero e representação em filmes de Ozualdo Candeias |
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Autor | Susana Aparecida dos Santos |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem como objetos três filmes dirigidos por Ozualdo Candeias: “Aopção ou As rosas da estrada” (1981), “A freira e a tortura” (1983) e “As bellas da Billings” (1986) Essas obras têm em comum, dentre outras coisas, o fato de terem personagens femininas, protagonistas ou não, de grande importância para o desenvolvimento da narrativa. No entanto, verifica-se que, nas análises já realizadas (que não são muitas, é preciso ressaltar), essa característica tem sido colocada em segundo plano, em detrimento de outros aspectos formais e estéticos. Nesse sentido, trazendo esses sujeitos femininos para o centro da análise, meu intuito é expor uma releitura dos filmes, com atenção voltada para as relações de gênero que são representadas pela linguagem cinematográfica. Para tanto, utilizo como principal referência teórica a pesquisadora Teresa de Lauretis. As considerações da autora que norteiam esse trabalho são: o potencial epistemológico do pensamento feminista; a compreensão do sistema sexo-gênero e sua operação sobre os sujeitos sociais; e a concepção de um sujeito do feminismo, capaz de transitar dentro e fora da ideologia de gênero. Em “Tecnologia de Gênero”, de Lauretis (1994) aponta as limitações de se pensar o gênero como diferença sexual, característica presente nos primeiros trabalhos feministas sobre a crítica da representação da mulher. Um dos problemas apontados é que o conceito de diferença sexual aprisiona o “potencial epistemológico radical do pensamento feminista sem sair dos limites da casa patriarcal” (p. 207). Quando livre da estrutura da estrutura conceitual de oposição biológica do sexo, esse potencial epistemológico é capaz de conceber o sujeito social e suas relações com a socialidade, como “sujeito constituído no gênero, sem dúvida, mas não apenas pela diferença sexual, e sim por meio de códigos linguísticos e representações culturais; um sujeito ‘engendrado’ não só nas relações de sexo, mas também de raça e classe”. (p. 208) Desse modo, compreende-se que as representações rígidas de oposição entre os sexos são feitas a partir do sistema sexo-gênero, ou gênero. Esse sistema, segundo de Lauretis, é formado pelas “concepções culturais de masculino e feminino (...) e relaciona o sexo a conteúdos culturais de acordo com valores e hierarquias sociais”. De maneira que, embora possa variar de acordo com cada cultura, “a construção cultural do sexo em gênero” está sempre intimamente ligada à desigualdade social. (p. 212) Para pensar além da identificação dos mecanismos de representação, considero importante nessa análise a concepção de um sujeito do feminismo. Trata-se, segundo de Lauretis, de “uma construção teórica (uma forma de conceitualizar, de entender de explicar certos processos e não as mulheres)”. Esse sujeito surge nos textos e debates do feminismo, a partir da consciência da opressão e da contradição de sua existência, se situando, “ao mesmo tempo dentro e fora da ideologia do gênero”. (p. 217) Tendo em vista essas considerações, é relevante destacar que os filmes em questão representam populações marginalizadas e estigmatizadas, no campo e na cidade. Assim, a análise busca destacar se, e como, as personagens, em especial as mulheres, são representadas dentro dos pressupostos do sistema de sexo-gênero, levando em consideração não só a representação imposta pelo gênero, mas também pelas questões de classe, raça e idade. Além disso, mesmo consciente de que o cinema é uma tecnologia social de gênero, a partir da noção de um sujeito do feminismo, é possível investigar se há, na linguagem cinematográfica, espaço para representações e performances dissidentes, ou momentos em que as personagens tenham consciência de sua opressão. |
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Bibliografia | AUMONT, J. MARIE, M. A análise do filme. Lisboa: Texto & Grafia, 2004. |