ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A noção de verdade na obra documentária de Werner Herzog |
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Autor | Jéssica Pereira Frazão |
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Resumo Expandido | Por vezes o diretor alemão Werner Herzog é mencionado em estudos voltados ao campo teórico do documentário, uma vez que já lidou com horizontes éticos como em O Homem Urso (2005); tecnológicos como em Caverna dos Sonhos Esquecidos (2010); autobiográficos como em Meu Melhor Inimigo (1999); de responsabilidade/risco com a equipe de filmagem como em La Soufriére (1977); experimentais como em Fata Morgana (1971), entre outros exemplos. Com um corpo de filmes respeitado e premiado, é possível posicioná-lo dentro de proposições de um cinema de autor (Autorenkino), pelo desenvolvimento de linguagem cinematográfica própria ao longo de quase seis décadas dedicadas a carreira. Como exemplo de cineasta-teórico em sentido exposto inicialmente por Jacques Aumont (2004) nas Teorias dos Cineastas, para além dos filmes, Herzog já escreveu declarações e livros-diários (1982; 2013), criou e regeu óperas, participou de manifestos e deu incontáveis entrevistas. Uma destas contribuições foi justamente a criação em 1999 do conceito de Verdade Extática (Ekstatische Wahrheit), ideia que gosta de frisar em toda oportunidade que encontra e que o acompanha até hoje. Para ele, Verdade Extática define uma condição de verdade inimiga do meramente factual, que deve remeter à essência vinda do êxtase no sentido da palavra grega ekstasis (ir para fora de si mesmo), um momento em que algo mais profundo se torna possível devido a um estado de sublimidade. Esse conceito é chave nesta proposta porque constitui o cerne do discernimento do cineasta no que diz respeito a sua representação de verdade fílmica no documentário. Esta noção de verdade funciona não apenas como uma idiossincrasia estilística de um Autorenkino, mas também como estratégia de auto representação, ficcionalização e alcance daquilo que é grandioso pelo esforço, no mesmo modo atlético ou físico de um jogador de futebol (CRONIN; HERZOG, 2014). Nesse sentido, tanto o êxtase quanto o sublime, em Herzog, remetem-se aos postulados filosóficos de Immanuel Kant (1993; 2008) e Dionísio Longino (1996). As experiências extáticas, resultando na exposição da verdade, se dão quando se atinge o nível do sublime, no sentido de elevação acima da natureza. A partir desta configuração, a relação personagem x natureza assume importância ímpar na compreensão dessa verdade fílmica. A natureza enquadrada pelas lentes herzoguianas é, numa primeira estância física, material, e não metafísica nem transcendental. O diretor utilizando representações do mundo físico, materializa e transforma estas paisagens em imagens cinematográficas (AMES, 2009). Esta configuração física que fala está “na fervorosa crença do diretor de que o cinema está conectado, em um nível fundamental, com a fisicalidade da experiência incorporada por parte do personagem fílmico e do cineasta” (WRIGHT, 2016. p. 83). Nas obras destacadas, os personagens são assumidamente deslocados e pouco compreendidos. Almejam o extraordinário e dentro das suas ambições, são sempre relembrados pela natureza das suas condições humanas diminutas. Dentro de um leque de recursos imagéticos e sonoros, o diretor busca apresentar ao espectador momentos de ausência do medo dos atores sociais, pela evocação da ideia de êxtase. Consoante com a premissa de que filmes contribuem para a reflexão teórica, esta comunicação combinará trechos dos documentários sugeridos com a exposição de textos e entrevistas do idealizador acerca da Verdade Extática, abordando-a pelo viés fundamental da relação personagem x natureza. |
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Bibliografia | AMES, Eric. Herzog, Landscape, and Documentary. Cinema Journal. Vol.48, No. 2, Screen Studies Collection, pp.49-69. Winter 2009. |