ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Brakhage, Deren, Mekas: o “amateur” como concepção poética |
|
Autor | RAFAEL ROSINATO VALLES |
|
Resumo Expandido | Delimitar o termo “amateur” e as questões que ele implica, acaba nos possibilitando uma diversidade de caminhos. Desde a construção de uma proposta vanguardista, passando pelos registros caseiros (home-movies), até alcançar o contexto digital dos youtubers e a massificação de realizadores que postam vídeos todos os dias nas redes sociais, pensar a questão do “amateur” é também entender uma pluralidade de sentidos que se adequa a determinado contexto sócio-histórico. É diante desta perspectiva histórica que este trabalho propõe um estudo sobre um período específico no âmbito cinematográfico e sobre autores que empregaram no termo “amateur”, uma concepção poética que acabou percorrendo as suas obras e delimitando uma forma para lidar com a imagem. Maya Deren, Stan Brakhage e Jonas Mekas são autores referenciais para a construção do que hoje conhecemos como o cinema de vanguarda norte-americano, que teve o seu apogeu no período pós-guerra, entre os anos cinquenta a setenta. Mas além da importância histórica que as suas obras possuem, existe um ponto em particular que une estes autores: pensar a questão do “amateur”, tanto como prática cinematográfica, quanto através da conceitualização teórica. Tanto Deren, como Brakhage e Mekas, buscaram pensar o realizador como um artista que reivindica uma liberdade “tanto artística como física” (Deren, p.177). A defesa pela posição do cineasta como um amateur torna-se, assim, não somente um caminho de distinção ao “profissionalismo” do cinema de cunho narrativo-comercial, mas, sobretudo, uma busca de afirmação artística. O sentido empregado ao amateur se refere ao artista que se libera das convenções cinematográficas de decupagem e produção, para “dedicar-se a capturar a poesia e a beleza de lugares e acontecimentos” (DEREN, 2015, p.177, trad. nossa). Existe no amateur a ideia do “amante”, de encarar o cinema enquanto uma expressão artística desprendida da concepção dominante do cinema como indústria. Nesse entendimento, é construída uma busca por “reivindicar certa identidade social e certa concepção de sua condição de realizador” (ALLARD, 2010, p.262, trad. nossa), que acaba revelando “uma demonstração de independência socioeconômica da criação em relação aos meios de produção do cinema comercial narrativo” (ALLARD, 2010, p.263, trad. nossa). É dentro deste contexto que parto da posição de que três artigos escritos por cada um destes autores, aportam um entendimento sobre o “amateur” no contexto do cinema de vanguarda norte-americano: Amateur versus Profesional (Maya Deren, 1959), In defense of amateur (Stan Brakhage, 1971) e A linguagem mutante do cinema (Jonas Mekas, 1962). Stan Brakhage traz um entendimento bastante claro sobre o amateur, enquanto “alguém que realmente vive sua vida – em vez de alguém que, simplesmente, “cumpre seu dever” – e, assim, experimenta seu trabalho à medida que o pratica – em vez de ir à escola e aprender seu trabalho para passar o resto da vida cumprindo seu dever” (BRAKHAGE, 2014, p.105,110, trad. nossa). Já Jonas Mekas parte do ponto de que “mesmo os erros, os planos fora de foco, os planos tremidos, os passos inseguros, os movimentos hesitantes, os pedaços superexpostos ou subexpostos fazem parte do vocabulário.[...] O insignificante, o efêmero, o espontâneo são as passagens que revelam a vida e que possuem todo o entusiasmo e a beleza. (MEKAS, 2013, p. 72). Anos antes deste artigo de Mekas, Maya Deren já escrevia que “as câmeras não fazem filmes, os cineastas fazem filmes [...] usa a tua liberdade para experimentar com ideias visuais; teus erros não farão que te demitam” (DEREN, 2015, p.178). É diante de colocações como estas que buscaremos analisar como pensar o “amateur” possibilita não somente uma forma para conceber a imagem, mas também a relação que o autor estabelece com o suporte. Pensar o “amateur” hoje nos remete aos despojamentos estilísticos, técnicos que foram buscados há mais de cinquenta anos por autores como Brakhage, Mekas e Deren. |
|
Bibliografia | ALLARD, Laurence. Un encuentro entre el cine doméstico y el experimental: el cine personal. In: ÁLVAREZ, Efrén Cuevas (org.). La casa abierta – el cine doméstico y sus reciclajes contemporáneos. Madrid: Ocho y Medio, Libros de Cine, 2010. |