ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Patrimônio cinematográfico: dilemas e fragilidades conceituais |
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Autor | NEZI HEVERTON CAMPOS DE OLIVEIRA |
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Resumo Expandido | A proposta se propõe a discutir alguns dilemas que permeiam a aplicação do conceito de patrimônio ao campo cinematográfico. O processo de patrimonialização de um bem cultural pressupõe uma seleção daquilo que receberá o status patrimonial, seja por meio do tombamento (bens tangíveis), ou do registro (bens intangíveis). Essa seleção é ditada por critérios de diversas naturezas (valor histórico, documental, artístico, cultural, afetivo, mágico) e está relacionada ao reconhecimento do valor “extraordinário” do bem cultural e de sua importância como símbolo identitário. Cabe ao Estado, por meio de órgãos, instituições e legislações nas esferas federal, estadual e municipal estabelecer o que será patrimonializado em cada território. No tocante às artes, essa operação, em geral, redunda num processo de valoração simbólica de formas de expressão artística que se tornam representativas de determinada comunidade em um determinado momento. A aplicação do conceito de patrimônio ao campo do audiovisual tem-se mostrado complexa e problemática. O filme envolve tanto uma natureza material, em suporte analógico (nitrato, acetato, poliéster) ou digital (DVD, Blue Ray, DCP), quanto uma imaterial já que também comporta uma experiência estética, cognitiva e afetiva não traduzível em termos tangíveis. Entretanto, o processo de prospecção, seleção e reconhecimento do valor simbólico do objeto cultural não é realizado nesse caso por meio de uma política estatal. No Brasil, a maior parte do acervo cinematográfico encontra-se sob a guarda de duas instituições: a Cinemateca Brasileira (SP) e a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (RJ). Esses arquivos sempre prezaram por uma política de autonomia e independência em relação à constituição de seus acervos, sem a adoção, ao menos oficialmente, de critérios definidos de seleção. Nesse sentido, todo filme é ou pode ser patrimônio. Dada a impossibilidade de armazenar fisicamente toda a produção cinematográfica brasileira, algum critério de seleção deve ter sido adotado. Os acervos das cinematecas foram constituídos a partir de diferentes origens. Muitos filmes se perderam já que a película de nitrato era altamente combustível e a de acetato sujeita à rápida deterioração. As recorrentes crises financeiras impediram a adequada aclimatação dos locais de guarda, expondo os arquivos a riscos frequentes de sinistros. Ainda que a regra geral fosse preservar o máximo possível, o tratamento dos acervos envolveu algum filtro de seleção, seja no lugar escolhido para armazenamento, seja no ocupado na fila de restauração. Sabe-se ainda que filmes eram recuperados para exibição em mostras e festivais segundo prioridades ditadas por seus curadores, o que também pode apontar outro critério de seleção. Da mesma forma, uma revisão da historiografia do cinema brasileiro, sobretudo a partir das obras mais panorâmicas, vai revelar o destaque dado a certos filmes. Em cada período tecido pelos diferentes textos historiográficos, vamos encontrar filmes e cineastas que ganharam relevância. Dessa maneira, a historiografia estaria operando um processo de seleção, produzindo listas de filmes que merecem ser lembrados em prejuízo de outros que são esquecidos. Tanto num caso como em outro, pode-se indagar sobre as diferentes motivações que influenciaram os critérios de seleção, relacionando-os aos diferentes contextos históricos em que essas “escolhas” ocorreram. Por outro lado, filmes desprezados em determinados contextos são reexaminados, ressignificados e revalorizados em outros, o que indica o caráter fluído e dinâmico do olhar patrimonializador. Minha intenção com esse trabalho é propor alguns questionamentos sobre a fragilidade do estatuto patrimonial do cinema,e, ao mesmo tempo, indagar sobre possíveis processos de patrimonialização de filmes, indicando como seus principais agentes a historiografia e os arquivos de filmes, à luz das influências de uma conjuntura cultural mais ampla ditada pelos diferentes momentos históricos. |
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Bibliografia | LINDNER, M. L. S. A. B. Políticas para a preservação audiovisual no Brasil (1995-2010). Tese de doutorado em Cultura e Sociedade. Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, UFBA, Salvador, 2013. |