ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A natureza do gesto do [no] cinema: corpos e instrumentos conjugados |
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Autor | Andrea C. Scansani |
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Resumo Expandido | Toda imagem cinematográfica, a nosso ver, é dotada de intenção, de certa personalidade, de atributos envolventes [ou repelentes] para além do conteúdo referencial e figurativo que preenche nossos olhos através de sua incontornável visibilidade. Ela guarda peculiaridades em sua forma que são, muitas vezes, independentes dos propósitos imediatos de seu autor e que, no entanto, se fazem presentes. Algo semelhante ao que o senso comum considera um gesto. Aquele toque irremediavelmente pessoal, por vezes indescritível, e que transcende o simples ato planejado. Como o caminhar de uma pessoa. Há um modo particular de cada corpo se deslocar no espaço. A coordenação e o balanço de ossos e músculos. O toque dos pés no chão. A leveza ou o rastejo, a diligência ou o desânimo. A cadência dos braços, a envergadura das pernas. A cada passo o caminhar se constrói. Como se o gesto só pudesse se manifestar junto ao tempo, imprimindo sua presença através de seu sutil trajeto. Sendo assim, como pensar o gesto sendo ele tão instintivo, involuntário e fugidio? Seria ele da mesma natureza da imagem? Se assim indagamos, é porque parece-nos genuíno aproximarmos as duas instâncias: imagem e gesto. Não apenas para refletirmos sobre as características únicas de cada manifestação, mas principalmente, para pensarmos as possibilidades de representação dos gestos através da imagem. Algo que, a nosso ver, é empreendido pelo cinema nas mais variadas formas. Formas essas que também podem ser entendidas como gestos. Uma outra sorte de gesto, um outro caminhar. Aquele dado pela convergência de muitos passos. Passos dos atores e dos cenários; da equipe e dos equipamentos; da preparação e da finalização; da montagem e da projeção. Um conjunto de gestos cinematográficos na construção do gesto fílmico, isto é, das imagens em movimento [e dos sons] que constituem o cinema. Para que possamos aproximar esses elementos aparentemente heterogêneos sob um único manto [o do gesto] temos que investigar mais a fundo o que este termo pode nos proporcionar e quais os as vantagens epistemológicas de seu uso. Isto posto, esta apresentação tem como objetivo apresentar uma linha de pensamentos que têm no gesto um modo de reflexão plural, "da ordem do pensamento, do corpo, da imagem, do potencial" (ROY, 2011). Com base nas proposições sobre o gesto, aos moldes de uma teoria, que se faz presente na obra de Vilém Flusser (Les gestes, 2014a), percorreremos o ensaio Philosophie du geste (1995) de Michel Guérin, o pequeno livro de Didi-Huberman (Geste d'air et de pierre, 2005) dedicado às reflexões sobre uma "respiração indistinta da imagem" do psicanalista Pierre Fédida (1995), as reflexões de Laura Mulvey em Cinematic Gesture (2014) e resgataremos alguns pensamentos que se encontram em O homem visível (1923) de Béla Balázs. Munidos das imbricações entre esses pensadores, quer por seus momentos de convergência ou de dissonância, traçaremos um esboço sobre o que propomos ser um gesto cinematográfico. Para que possamos verificar a adequação [ou não] de nossa proposta, faremos um breve percurso sobre os escritos de Jean Renoir (1990) onde o cineasta coloca a necessidade da "conjugação de personalidades" entre realizador e equipe para que as ideias em papel possam expressar a mesma força vital do momento de sua concepção intelectual. E, de modo semelhante, nos colocamos também em companhia das reflexões de Ingmar Bergman (2013) para que possamos expandir a conjugação entre corpos e desejos humanos [pensado por Renoir] para o conjunto técnico integral [câmera, som, arte, produção] da realização cinematográfica orquestrada por Bergman. |
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Bibliografia | BALÁZS, B. Theory of film. Londres: D. Dobson, 1952. |