ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Notas de pensar no documentário: Trilogia do Luto, de Cristiano Burlan |
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Autor | Patricia Rebello da Silva |
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Resumo Expandido | Este artigo desenvolve uma reflexão em torno do documentário brasileiro contemporâneo, optando por um recorte que contempla produções orientadas pelo mecanismo de auto-inscrição do realizador na estrutura narrativa, bem como pela projeção de memórias íntimas no contexto da mise en scène. A montagem destes filmes aponta para o que, em um primeiro momento, pode se constituir como uma “argumentação afetiva”, mas que se expõe, gradualmente, como dispositivo produtor de narrativas, fabulações e maquinaria de memória. Documentários de busca, cinema de dispositivo, filmes de encontro, essa produção subjetiva tem se mostrado, nos últimos vinte anos, território rico em experimentações e invenções de linguagem. A partir da Trilogia de Luto, de Cristiano Burlan, este texto busca pensar os filmes “Construção” (2007), “Mataram Meu Irmão” (2013) e “Elegia de um crime” (2018) tanto como rastro como quanto sintoma deste estado de coisas no documentário brasileiro contemporâneo. Para contar a história de ausências e vazios, Cristiano Burlan pratica um cinema de encontros. O paradigma se instala no coração das questões que atravessam os três filmes da Trilogia do Luto (Construção, 2007; Mataram meu irmão, 2013; Elegia de um crime, 2018), cujas narrativas surgem do tensionamento dos fatos em torno das mortes do pai, do irmão e da mãe do diretor, respectivamente. Na busca por uma forma, o diretor, igualmente, ao longo dos filmes, vai fabulando um cinema possível, um cinema do tamanho de suas angústias e inquietações. Se em "Construção", registro do microcosmo de um canteiro de obras na cidade de São Paulo, a imagem do pai se torna uma possibilidade em cada um dos operários da obra, a partir de "Mataram meu irmão" o vazio se consolida como presença, a ausência como memória rediviva e a própria impossibilidade da imagem do irmão, assassinado com sete tiros nas costas, como forma da história, ou de impossibilidade de história. A consciência de uma "violência do visível", como escreve Marie-José Mondzain, a realização do cinema como experiência de luto, a reflexão sobre quais as imagens possíveis e justas para pensar a perda, são questões que entram em crise e encontram acolhida em "Elegia de um crime", mergulho vertiginoso na reconstrução da imagem e da vida da mãe do diretor, morta de forma trágica. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cristiano Burlan – um relato de vida. Blog do Jean-Claude. http://jcbernardet.blog.uol.com.br/cinema/arch2014-02-16_2014-02-22.html. Acesso em 11/5/2018. |