ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Corpos secos e molhados: entre pampas húmidos e sertão cerarense |
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Autor | Natacha Muriel López Gallucci |
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Resumo Expandido | A presente comunicação expõe alguns momentos da pesquisa audiovisual comparada em andamento nomeada "Corpos secos, corpos molhados: representações da cultura popular entre os pampas e o sertão" que foi iniciada na Universidade Federal do Cariri em 2017. Dentro do escopo dos estudos comparados esta pesquisa interdisciplinar tem focado no desenvolvimento de um corpus fílmico que contribua aos debates entre cinema latino-americano e história, assim como nas discussões sobre filmografias da cultura popular latino-americana contemporânea. Os achados e processos desenvolvidos em paralelo, através da pesquisa audiovisual empírica, entrevistas a diretores, entre outros, confrontara-nos com produtos imagéticos ligados às histórias singulares dentro de um coletivo geograficamente situado, a formas singulares de fazer cultura e pensar cultura. E fundamentalmente, integraram a práxis ao reconhecimento de manifestações pouco estudadas e vistas como marginais, de contracultura, associadas às estéticas da resistência política, religiosa, de gênero, assim como dos povos originários dentro do processo de descolonização que advém na América Latina depois de terminada a Segunda Guerra Mundial. Neste trabalho temos por principal objetivo analisar comparativamente representações fílmicas do corpo e das práticas da cultura popular que apresentam figuras de desestabilização social nos cinemas de Brasil da Argentina, por fora do tradicional eixo Rio - Buenos Aires. Neste sentido, temos abordado como cinemas "fora do eixo" um corpus fílmico associado a diretores que trazem representações artísticas de autopoiese no interior de ambos paises; de um lado nos corpos secos do sertão, no subgrupo cearense, no Brasil; e de outro lado, as artes dos corpos molhados dos pampas, no subgrupo litoral, na Argentina. Considerando o amplo desenvolvimento dos estudos comparados em América latina buscamos um diálogo entre essas filmografias aparentemente remotas; pois, longe de expressar a reivindicação das identidades nacionais, constatamos nelas a afirmação do local e o regional, o rural, a roça, o sertão, as orilhas e as ilhas como espaços de restituição da memória e de práticas populares que os processos de industrialização acabaram transformando. Alguns diretores conseguem apresentar o ônus que algumas formas de arte pagam para não desaparecer e continuar catalisando resistências sociais. O teor da palavra seca, na poesia de Patativa do Assaré (Patativa o Assaré. Um poeta do povo, Rosemberg Cariri, 1984) e do corpo árido, por sua vez musicante e musicado nos grupos cabaçal (Zabumba, orquestra popular do nordeste, Zelito Viana, 1974), nos entremezes teatrais, lapinhas e lutas com espadas dos reisados do congo (Filosofias do corpo no cariri cearense, Lopez Gallucci, 2018), destacam a utilização do violão, do pífano e do acordeão na confluência das fortes tradições ibéricas, aborígenes e tradições negras que formaram a cultura do sertão. Essas manifestações dialogam, pela via genética da sua estética, aguas adentro, com a materialidade sonora do litoral argentino nas poesias de Juan L. Ortiz (La orilla que se abisma, Gustavo Fontán, 2008) as representações do acordeão no chamamé (Los inundados, Fernando Birri, 1962), no chotis, na mazurca, na milonga - como atualização da payada-, da polca e do tango de raiz (Los isleros, Lucas Demaro, 1951) e do razguido doble (Las águas bajan túrbias, Hugo del Carril, 1952), entre outras. A filmografia ainda, em etapa de estudo, abre uma indagação teórica, em ambos os contextos, sobre o legado estético e político das danças ibéricas, as músicas centro-europeias assim como as poesias, representações de laços sociais produtores de memória coletiva que, apesar da sua marginação e transformação, resistem na imagem fílmica de diretores filiados ao cinema social, tanto da carnavalização quanto da espetacularização urbana da arte. |
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Bibliografia | BIRRI, F. La Escuela Documental de Santa Fe. Santa Fe: Editorial Documento del Instituto de cinematografia U.N.L., 1964. |