ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A recepção da "Trilogia de frutas tropicais" do cinema brasileiro |
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Autor | Vitor Ferreira Pedrassi |
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Resumo Expandido | Com a chegada do cinema sonoro no Brasil, surge uma espécie de subgênero em nossa cinematografia: o filme musical. Nele, aparentemente, a história ficava em segundo plano, pois o mais importante era a série de números musicais que compunham o filme. Devido à herança advinda do cinema silencioso de colocar o carnaval como peça central de uma obra, esses filmes se valiam de músicas – muitas vezes, carnavalescas - que iriam tomar conta das rádios no momento para que os seus respectivos cantores apresentassem suas canções em frente à câmera e o público finalmente pudesse conhecê-los. Esse subgênero, que perdurou até meados dos anos 1940 e de certa forma precedeu a chanchada, teve seu grande sucesso em filmes como Alô, alô, Brasil! (1935), de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, Alô, alô, carnaval! (1936), de Adhemar Gonzaga, e Banana da terra (1939), de Ruy Costa. Este último daria início a chamada “Trilogia de frutas tropicais” (VIEIRA, 1987, p. 150) produzida por Downey e a produtora Sonofilmes, que é constituída também por Laranja da China (1940), igualmente de Ruy Costa, e Abacaxi azul (1944), do mesmo diretor, agora em conjunto com Downey, numa coprodução entre a Sonofilmes e a Cinédia. Esses filmes atraíam um grande público ao mesmo tempo em que eram criticados e malditos pela crítica e a “elite intelectual” do país que sempre os tratou como pertencentes a um subgênero menor e mal feito. Essa questão é tão latente nesse processo cultural da época que o terceiro filme da trilogia, Abacaxi azul, possui esse título em alusão ao termo pejorativo usado pelos críticos para designar muitos desses filmes, os chamados “abacaxis” (FREIRE, 2011, p. 96-7). Sobre essa obra, por exemplo, podemos ler numa seção não assinada de A Scena Muda: "Wallace Downey tem sido um esforçado animador do cinema nacional, mas possue o defeito de confiar demasiado nos artistas de rádio que escolhe para o elenco de seus filmes carnavalescos. Para ele, parece que o argumento e o diretor não fazem falta, pois 'Abacaxi azul' de cinema, evidentemente, só possue o celuloide em que foi impresso e copiado. É uma pena que isso aconteça, porque Downey podia apresentar bons filmes, se arranjasse melhores argumentos e entregasse a filmagem a alguém que conhecesse um pouco de cinema." (A SCENA MUDA, 15 fev. 1944, p. 6). Nesse pequeno trecho, podemos perceber um dos pontos que permeia todo o debate acerca do “fazer cinema” no Brasil daquele momento. Há nas palavras do escritor uma desvalorização desse cinema carnavalesco e uma crítica ao grande destaque dado para os artistas de rádio em lugar da sofisticação do argumento e da direção cinematográfica. Pode-se apontar, portanto, que, na visão desse crítico, esses filmes trabalhados não seriam o “verdadeiro” cinema por não possuírem esse apreço por tais questões, mas serem uma série de cenas impressas em celuloide. É de se notar também uma espécie de valorização da figura de Wallace Downey, visto como um dos nossos poucos “animadores” cinematográficos: ainda que erre nas opções que faz dentro de suas obras, sua vontade de produzir filmes no Brasil é louvada. Assim sendo, através de exemplos como o acima mencionado, procuraremos demonstrar através de pesquisas em jornais e revistas impressos daquele período histórico, como A Scena Muda, Cinearte, Jornal do Brasil e Correio da Manhã, de que forma essas obras, tão importantes dentro de nossa cinematografia, eram recebidas por público e crítica. Dessa forma, acreditamos esboçar um panorama certamente representativo do embate cultural vivido pelo cinema brasileiro daquela época. |
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Bibliografia | AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. |