ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Diante da tela: o espectador entre a imersão e a consciência |
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Autor | Daniel Filipe de Souza Santos |
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Resumo Expandido | O lugar atual do espectador de cinema não pode ser considerado o mesmo do surgimento do cinema. Os mais de cem anos observando a narrativa, a montagem e a articulação de possibilidades imagéticas nos levaram a um lugar que não é mais inocente. Do cinema clássico ao contemporâneo, muitas relações entre as imagens e o espectador foram propostas. Neste trabalho, por meio de filmes (Cinema Paradiso, A Última Sessão de Cinema, Tabu) que trazem em suas narrativas a figura do espectador e que propõem discutir a imagem cinematográfica, analisaremos algumas delas, abordando as complexidades e potencialidades de cada uma. As origens do cinema são tão velhas quanto a civilização de que somos fruto, como afirma Arlindo Machado (2011). Iniciamos esse percurso retornando às imagens das cavernas. É no desejo de marcar a mão numa superfície rochosa, que Marie-José Mondzain (2015) enxerga a emergência de uma consciência do sujeito. A partir desse momento, ele se depara com algo que é proveniente de sua criação (de seu desejo), mas que também possui uma vida própria (que causará, em cada um que se colocar à sua frente, algo distinto). Este algo é a imagem. Como pontua Morin (2014), um aspecto de duplicidade parece ser inerente às imagens: sua delimitação e sua incompletude, sua relação com o concreto do mundo e com o imaginário, o que ela dá a ver e o que ela esconde. Com a fotografia e o cinema, as imagens que sempre partiram da criação manual do homem (a pintura, a escrita, a escultura), agora seriam mediadas por um instrumento técnico: a câmera. A capacidade de captar o movimento do mundo objetivamente, inaugurada pelo cinema, no entanto, não isenta suas imagens de algo de duplo. Partindo dos exemplos fílmicos, analisaremos os diferentes modos que a imagem cinematográfica operou essa relação, desde a sua concepção de mise-en-scène e articulação na montagem até o modo como ela se apresenta ao espectador, convocando-o a uma imersão ou a uma distância. Os conceitos propostos por Ismail Xavier (2003) de um momento de revelação e de engano para a imagem cinematográfica nos guiarão nessa análise. A revelação encontra no Cinema Clássico o seu maior exemplo. Sua estética e montagem (por meio da articulação em narrativas, impressão de realidade e continuidade das ações) colocou o espectador em um lugar de projeção-identificação acerca das imagens. É esta relação que emerge entre o menino Totó, os habitantes de sua pequena cidade e o cinema em Cinema Paradiso (1989), de Giuseppe Tornatore. A imagem que provém da tela, ao mesmo tempo em que deseja se afirmar como real, também se abre para o indefinido do imaginário de todos os seus espectadores, dando vazão a vários desejos. Por meio do filme A Última Sessão de Cinema (1971), de Peter Bogdanovich, exemplificaremos o lugar do engano. Ambientado numa pequena cidade texana dos anos 1950, o filme evoca um lugar de desilusão e morte de um modo de vida e de se fazer cinema. O contraste entre juventude e velhice é também expresso nos filmes exibidos no pequeno cinema da cidade. Em suas imagens, o filme deseja atentar o espectador para a artificialidade de suas imagens, algo próprio do Cinema Moderno. Completamos o percurso com Tabu (2012), de Miguel Gomes. Com uma estilização que se aproxima ao cinema clássico (imagens em preto e branco, formato 4:3, narrativa melodramática e um segmento parcialmente mudo), Tabu, porém, propõe um novo modo de seu espectador se relacionar com imagens e histórias presentes no imaginário ocidental, disseminadas pelo cinema. Em seus três segmentos, o filme reúne questões de cinema, memória e colonização, a partir de Pilar, personagem que é uma espectadora de cinema. Analisaremos Tabu atentos ao lugar distinto proposto à relação imagem-espectador: não mais de encanto e imersão ou da consciência e distância; mas um lugar móvel que desliza lentamente ao longo das imagens que deslizam elas mesmas umas sobre as outras, como propõe Serge Daney (2007). |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A estética do filme. Campinas: Papirus, 2008. |