ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Morte e Sangue Menstrual - O Abjeto em: Amor, Palavra Prostituta |
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Autor | RODRIGO AUGUSTO FERREIRA DE MORAES |
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Resumo Expandido | Esse trabalho faz parte da pesquisa de mestrado em curso no PPGCOM-UFRJ, na qual analiso filmes do período “erótico” da produção de Carlos Reichenbach, delimitada entre os anos de 1981 e 1984. O objetivo é realizar uma exposição teórica do abjeto como representação imagética, sua relação com a morte e com o sangue menstrual, à luz do filme: Amor, Palavra Prostituta (1981). Nesse melodrama, a motivação primeira de Reichenbach são os filósofos pré-existencialistas, sobretudo Soren Kierkegaard, como o diretor comenta em entrevista a Geraldo Sarno (2000). A narrativa é baseada em quatro personagens que têm suas vidas marcadas pelo desalento, mas que procuram uma forma de viverem dignamente. O filme foi premiado no Festival de Roterdã (1982) por se alinhar com o movimento feminista à época no tocante ao aborto e sua legalização. A exposição se pautará, primeiramente, por apresentar o conceito de abjeto e a base teórica na qual me apoio para o uso deste, para em seguida demonstrar como se insere na representação dos corpos – gestos (AGAMBEN, 2008, p.12). O diretor trabalha a narrativa partir de agentes simbólicos, de maneira a provocar no espectador e nos personagens um aspecto de repulsa corroborando a afirmação de que “a fobia carrega as marcas da fragilidade do sistema significante do sujeito” (KRISTEVA, 1982, p. 35). A morte ou “o desespero é o desesperar de nem sequer poder morrer” (KIERKEGAARD, 1979, p.324), é representada de maneiras diversas no filme, porém com dois pontos marcantes no começo e ao final do longa-metragem. No início, os personagens encontram um homem que se enforcou, o que causa profundo mal-estar; em outro momento, após realizar um aborto, a personagem Lilita (Alvamar Taddei) faz alusão ao morto do início da trama, estabelecendo uma ideia de ciclo que se fecha, tal qual a morte em relação à vida. A partir do conceito de morte como abjeto, vamos traçar os pontos de convergência entre Soren Kierkegaard e Georges Bataille, acerca da descontinuidade do ser humano (2013, p. 105) e embora lutemos para preservar a vida e consequentemente essa descontinuidade, em uma relação de forças opostas, desejamos a morte e o retorno à continuidade perdida no nascimento, aproximando-se dessa maneira dos estudos de Sigmund Freud, acerca da pulsão de morte na obra Além do Princípio do Prazer (2016). Kierkegaard, ao considerar que os seres humanos estão impossibilitados de liberarem-se do desespero (1979, p. 329), atua em sentido semelhante ao de Bataille quando este afirma que o indivíduo não pode liberar-se do interdito (2013, p. 89). Portanto os dois autores traçam relações dialéticas entre o eu e o outro, que aqui vamos entender fundamentalmente como o abjeto, representado pelo cadáver (corpo abjeto) e pelo sangue (corpo feminino) – nesse caso o sangue menstrual ou derivado da hemorragia proveniente do aborto. Em um segundo momento, vamos aprofundar as relações do abjeto com o sangue menstrual, procurando estreitar a exposição com a teoria de Júlia Kristeva (1982, p.71), já que esse sangue está ligado exclusivamente ao corpo feminino. O sangue que tem seu papel primordial após o aborto de Lilita, quando o personagem que a induz ao procedimento, Luís (Roberto Miranda), demonstra profundo nojo da hemorragia decorrente, e que por conta disso, não é capaz de qualquer atitude no sentido de “estancar” a situação, ao passo que Fernando (Orlando Parolini), que mal a conhece é quem passa a cuidá-la. O filme teve alguns minutos cortados por ordem da censura, exatamente por conta do sangue. Por fim, vamos relacionar a estética utilizada no filme para balizar uma interpretação sobre o uso do abjeto e seu papel na narrativa, estabelecendo uma conclusão de como o uso de tais imagens atua na direção de construir junto ao espectador uma narrativa militante que, além de atuar no sentido de uma reflexão acerca dos abortos clandestinos, também coloca em xeque as relações de vida e morte, costurando uma gama de relações entre esses extremos. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Notas Sobre o Gesto. Ouro Preto: Artefilosofia, 2008. |