ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Interseções entre o cinema documentário e o cinema experimental. |
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Autor | ANTOINE NICOLAS GONOD D ARTEMARE |
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Resumo Expandido | Palavras-chave: cinema documentário, cinema experimental, mutações contemporâneas do documentário, convergência dos meios, Realidade Virtual A presente proposta objetiva explicitar as interseções, atravessamentos e imbricações entre o cinema documentário, o cinema experimental e as artes plásticas na produção contemporânea brasileira, a partir do estudo da obra Cartas à Lumière (2017), do diretor Fabiano Mixo. Cartas à Lumière é uma obra híbrida composta por uma videoinstalação e um filme de Realidade Virtual, expostos em 2017 no centro cultural Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro. Ao contrário de um documentário clássico, a obra não tem nenhuma pretensão narrativa, informativa ou pedagógica. Munido de óculos de Realidade Virtual o espectador se encontra transportado para cenas cotidianas da estação de trem Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. A obra é marcante por convocar de forma aguda a implicação do corpo e da sensorialidade do “espectador-participador”, que se encontra assim envolvido numa experiência interativa, acrescentando-se como uma outra dimensão à experiência contemplativa tradicional do cinema. Através da análise de Cartas a Lumière, essa comunicação pretende demonstrar como, por meio de um dispositivo imersivo que aprimora a estética da transparência, esse filme inclui o corpo do espectador de maneira imediata e interativa e produz dessa maneira uma nova experiência perceptiva e sensível que desloca as noções clássicas de ponto de vista, enquadramento e instância narrativa, apresentando novos caminhos estéticos para o cinema documentário. Nossa pesquisa buscará assinalar os parâmetros de convergência entre o documentário e o cinema experimental, o que parece fazer parte de um movimento mais amplo de reconfiguração do cinema documentário contemporâneo. Se essas imbricações existem desde o início do cinema, essa produção híbrida tem aflorado e se multiplicado de maneira significativa nos últimos anos. A respeito disso, o curador de cinema americano Richard Peña comenta a partir do cenário estadunidense: “se houvesse alguma palavra para melhor resumir a produção documental contemporânea nos EUA, provavelmente seria convergência: os limites estritos que por tanto tempo governaram a produção cinematográfica – ficção, documentário, animação, cinema experimental – têm praticamente desabado, com novas formas híbridas excitantes aparecendo continuamente." (PENA, 2016) Será também considerado para essa apresentação o estudo da porosidade das fronteiras entre o documentário e a arte contemporânea, explorada por Consuelo Lins no artigo “Rua de mão dupla: documentário e arte contemporânea”, em que a autora comenta esse aspecto na obra do artista Cao Guimarães: “Rua de Mão Dupla expressa um cruzamento e uma circulação cada vez mais intensos entre domínios até pouco tempo distantes, e mesmo hostis entre si: a arte contemporânea e o documentário. Cineastas que trabalham prioritariamente no documentário criam instalações para serem expostas em galerias ao mesmo tempo em que artistas expandem suas criações para o campo das imagens documentais.” (LINS, 2009, p328) Nessa perspectiva, a apresentação pretende demostrar não só como Cartas a Lumière é um filme híbrido que faz convergir os gêneros do cinema documentário, do cinema experimental e das artes plásticas, mas também de que forma ele se inscreve numa tradição de interseções, atravessamentos e imbricações entre a história do cinema documentário e a história do cinema experimental no Brasil, renovando essa questão através do uso do dispositivo de Realidade Virtual. |
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Bibliografia | BAIO, Cesar. Máquinas de imagem: arte, tecnologia e pós-virtualidade. São Paulo, Annablume, 2015. |