ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Afroperspectivismo e documentário: artepensamento decolonial |
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Autor | Gilberto Alexandre Sobrinho |
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Resumo Expandido | O ponto de partida dessa comunicação é desenvolvimento, para o campo dos estudos e da realização documentária, do afroperpectivismo, tendo as ideias de Renato Nogueira disparadoras dessas possibilidades. Alocado numa ética ubuntu, o afroperspectivismo seria “o conjunto de pontos de vista, estratégias, sistemas e modos de pensar e viver de matrizes africanas” (p. 147). Aqui pesam valores tais como antirracismo e o policentrismo, visando formas de partilha comunitária, numa relação desafiadora com o princípios eurocêntricos que impõe-se sobre nossos saberes e modos de ser. À medida que a realidade da sala de aula do ensino superior gradativamente se reelabora, com atores sociais historicamente excluídos, sobretudo negros e indígenas, passando a ocupar essas instituições, torna-se cada vez mais necessário pensarmos em outras epistemologias que possam ir ao encontro dessas novas demandas. Nesse texto, o foco é a produção e o pensamento a partir de documentários realizados por/sobre a população afro-brasileira. Há, no presente, formas de empoderamento que têm restituído autoestimas de sujeitos excluídos, onde pesam a luta histórica de movimentos sociais que atravessam os tempos e tornam os séculos XX e XXI particularmente importantes para o protagonismo negro. Esse processo resulta de lutas históricas contra o colonialismo, onde se desenvolveu e arraigou formas de racismo e etnocentrismo estruturais que perpetuam em formas de violência, estabelecendo, continuamente, o que se denuncia como genocídio, seja da juventude negra e de indígenas, ainda no presente. Dois longas-metragens brasileiros, lançados recentemente, apontam para essas evidências, como O caso do homem errado (Camila de Moraes, 2017) e o filme Martírio (Vincent Carelli, 2016). Os filmes e suas lógicas de autoria, narrativa, produção e partilha estão em sintonia com os determinantes do que Manuel Castells denomina a sociedade em rede, onde interação, indignação esperança informam sobre agenciamentos e sentimentos contemporâneos. No entanto, mesmo com nesse novo cenário, que contamina a produção e a compreensão das imagens, a sobrevivência, em amplo sentido, é, ainda, algo que desafia o cotidiano para os sujeitos que são ameaçados em sua existência. Com isso, constatam-se questões de inequidade dos direitos humanos que afetam aos mais vulneráveis. Essa reflexão visa propor perspectivas que vão ao encontro da criação e da circulação de imagens e sons que tensionem e assumam como desafio dessas questões, em práticas artísticas e comunicacionais, do cinema e do audiovisual. A minha proposta, centrada numa junção entre ética e estética, aponta para três caminhos, a saber: 1) o papel estratégico das identidades (Craig Calhoun, Manuel Castells e Stuart Hall.; 2) a restituição das expressões do pensamento e das práticas artísticas culturais das resistências (o quilombismo) e a construção de novos campos do conhecimento (Sueli Carneiro, Abdias do Nascimento e Beatriz Nascimento); 3) o reconhecimento da luta política pela sobrevivência nas sociedades em redes (Abdias Nascimento, Achille Mbembe e Judith Butler). Justifica-se o campo do documentário justamente por alinhar-se aos discursos de sobriedade (Bill Nichols, 2010), tornar evidentes as disputas discursivas, apresentar ao longo de sua história um rico quadro nas relações com alteridade, lidar com as disputas no terreno da apropriação cultural e, finalmente, ser um campo da imagem em que as questões políticas e de poder são centrais (Janet Cutler e Phyllis Klotman). A apresentação será finalizada com uma autorreflexão de filmes documentários dirigidos por mim, resultados de práticas artísticas conjugados com extensão acadêmica. Trata-se do que nomeio como a Trilogia Negra, onde incursiono pela criação poética de territórios e trajetórias relacionadas aos negros em Campinas-SP nos curtas-metragens Diário de Exus (2015) A dança da amizade. Histórias de Urucungos, Puítas e Quijengues (2016) A mulher da casa do arco-íris (2018). |
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Bibliografia | BUTLER, J. Quadros de guerra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016 |