ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | “Os subversivos”: sua representação no Cinema Brasileiro (1968-2013) |
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Autor | Sheila Schvarzman |
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Resumo Expandido | “Não nos demoremos no espetáculo da contestação, mas passemos à contestação do espetáculo” inscrição no muro do Teatro do Odeon sob inspiração de Guy Débord Ao longo dos 50 anos que nos separam de 1968, a insubmissão e o arbítrio foram substituídos pela busca de conciliação. Não apenas a partir da distensão muito “lenta, gradual e segura” de Ernesto Geisel (1974-1979), mas sobretudo com uma Lei de Anistia (1979) que beneficiou e deu o mesmo estatuto a militantes políticos de oposição presos ou exilados e agentes públicos responsáveis, entre outros, pela tortura. Memórias e a escrita da história, além do próprio cinema, vão refletir essas profundas contradições. É de 1979 a primeira “fresta por onde espiar o passado” (SIMIS, 1998, 12), a publicação das memorias de Fernando Gabeira, participante do sequestro do embaixador americano em 1970. A redemocratização (1985) trouxe mudanças políticas e econômicas significativas. O papel do estado e de sua função reguladora não foi questionado apenas no Brasil. As aspirações transformadoras dos anos 1960 em todos os âmbitos foram reconfiguradas. “O sonho acabou”, máxima atribuída aos derrotados de 68, serve de justificativa para o fim da utopia, a conformidade, o individualismo. Sem esquecer que a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim, o fim da história foi decretado. E, no entanto, a desconstrução dos discursos de poder se acentuou, as minorias, os vencidos, começam a entrar na história. Em meio a esse cenário, no Brasil, onde a conciliação com o passado leva a uma “uma vontade de esquecimento e uma vontade de saber” (XAVIER, 1997), o cinema agora reconfigurado em sua forma de sustentação, toma essa “vontade de saber e de esquecimento”, e a história torna-se um gênero privilegiado e eventos e protagonistas “subversivos” dos anos 1960, banidos ou apagados, retornam à cena. Como suas trajetórias foram reapropriadas por um novo tempo histórico marcado pela conciliação que igualou vítimas e perpetradores em sua lei de anistia? De que forma, a “contestação do espetáculo” de que fizeram parte, torna-se o “espetáculo da contestação”? Da opacidade dos anos 1960, passamos à ilustração, ao didatismo na fatura cinematográfica; à reverência e à domesticação da escrita sobre o passado. Como afirma Kristin Ross nos “interessam mais os ecos do que o barulho e o furor” dos acontecimentos originais (2008). Dessa forma, tomamos por objeto de análise quatro filmes biográficos – entre ficção e documentário que se debruçam sobre trajetórias de militantes políticos. Na ficção, dois filmes buscam dar conta da trajetória de Carlos Lamarca (Lamarca, Sérgio Rezende,1994, aproximadamente 120.000 espectadores) e Fernando Gabeira (O que é isso Companheiro, Bruno Barreto,1997, 321.425 espectadores); ambos fazem parte do período da “Retomada do Cinema Brasileiro” (1994-2001), que prezava a suposta gravidade e certa pompa do ‘filme de época’, e tiveram boa receptividade dos espectadores. Situação bem diferente das garrafas lançadas ao mar a que se refere Anita Leandro. Carlos Marighella é objeto de dois documentários, o unidimensional Marighella - Retrato falado do guerrilheiro, de Sylvio Tendler, 2001, e Marighella, de Isa Grinspun Ferraz, 2013, documentário em primeira pessoa, rodado pela sobrinha do combatente. Apesar da distância temporal e dos gêneros distintos, um fator parece reunir esses filmes: a incapacidade de pensar a insubordinação sem condená-la, ou ao contrário, mitificá-la, erigindo heróis esvaziados de seu sentido histórico, portanto, contraditórios. Sequestros, domesticações, desvios de sentido que o curso da história no cinema documentou e construiu, participando das reconfigurações da memória sobre o engajamento e a política. |
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Bibliografia | DOSSE, François – L´Histoire à l´épreuve de la guerre des mémoires” IN Cités, 2008/1, n.33, p.192 https://www.cairn.info/revue-cites-2008-1-page-31.htm Acesso em 12.5.2018 |