ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Só um tapinha? Corpo e política no audiovisual nas redes sociais |
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Autor | Adil Giovanni Lepri |
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Resumo Expandido | O audiovisual feito para a internet cada vez mais tem se tornado um importante instrumento político e os avanços tecnológicos têm facilitado e condicionado (LEVY, 1997) uma determinada produção de discurso nas redes sociais. Este artigo pretende investigar como a retórica do excesso, a imaginação melodramática (BROOKS, 1995) e a noção de cinema de atrações (GUNNING, 2006) se articulam na construção da disputa política através do audiovisual, colocando o corpo como elemento central do discurso. Serão tomados dois exemplos, um vídeo do canal do YouTube “Mamaefalei” – onde o autor do vídeo é supostamente agredido com um tapa pelo pré-candidato a presidente Ciro Gomes [1] – e outro vídeo, postado pela página do Facebook “Anarcomiguxos VII” que usa o primeiro como matéria prima pra criar uma paródia, um meme [2]. O excesso é um aspecto que norteia a reflexão, sustentado por conceitos de Gaines (1999) como pathos do fato e mimetismo político. Ao mesmo tempo, a noção de cinema de atrações é apropriada para se relacionar com os vídeos em questão pois se constrói em torno do maravilhamento, do espetáculo corporal e do endereçamento ao espectado, características tão próprias ao primeiro cinema como a parte significativa da produção audiovisual no contexto das redes sociais, sobretudo no YouTube. Duas características também muito recorrentes no contexto dos exemplos analisados são a intertextualidade como materialidade da seleção, repetição, mistura e transformação (SILVA, 2014) típica dos memes na internet, e a interatividade como ferramenta que possibilidade a manipulação de diferentes fontes para criação de novas obras. Nesse sentido, a buscabilidade e a permanência (BOYD, 2007), características basilares das plataformas de redes sociais na internet, são elementos fundamentais que possibilitam a manutenção deste contexto de troca e criação usando os vídeos postados como matéria prima, na chave do que Jenkins (2006) chama de cultura participativa e que Manovich (2002) aponta como característica central das mídias digitais, a organização em base de dados. Os dois exemplos travam uma disputa política usando o corpo como elemento central. A antecipação do momento da agressão no vídeo original – tanto no próprio vídeo quanto nos elementos extra-fílmicos como postagens na página do Facebook do canal alardeando a agressão – é uma ferramenta que visa amplificar o discurso em torno do acontecimento. Assim como o uso excessivo da repetição, tanto da agressão em si, vista várias vezes e por vários ângulos, quanto dos momentos posteriores, onde se repetem os xingamentos e a confusão que se segue também em mais de um ângulo de câmera. Esse recurso é utilizado com frequência nos vídeos do canal “Mamaefalei” e está sempre a serviço da amplificação dos acontecimentos, no que Gaines (1999) chamaria de pathos do fato. A paródia feita a partir do vídeo original, jocosamente intitulada “ciro_gomes_dando_pedala_no_mamaefalei_ao_som_de_blue_monday.mp4” toma o recurso da repetição e o leva ao limite, destituindo-o de seu sentido original e transformando aquele fato em uma parte que só tem significado em relação com o todo, como a batida da música que está presente no vídeo. A repetição então se torna uma ridicularização do vídeo original e do fato que este retrata, também na chave do excesso, colocando várias vezes uma mesma imagem e um mesmo som que esvaziam o discurso original do corpo em perigo. [1] Acesso em 10/05/2018 [2] Acesso em 10/05/2018 |
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Bibliografia | BOYD, Danah. Why youth (heart) social network sites. MacArthur foundation series on digital learning, 2007, 119-142. |