ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | O enunciado teórico e o sensível das imagens na Teoria dos Cineastas |
|
Autor | Bruno Leites |
|
Resumo Expandido | Como afirma Mitchell, não existe imagem sem texto que a anteceda, a superponha, a confronte. Por outro lado, não deveríamos reduzir a imagem a uma função textual e à linguagem. (MITCHELL, 1994). Nesse sentido, a imagem é ação no sensível, ao passo que texto é significação e articulação discursiva. Nos artigos norteadores da Teoria dos Cineastas, que se reportam tanto ao ST Teoria dos Cineastas da SOCINE, quanto ao GT de mesmo nome da AIM, parte das possibilidades metodológicas encaminha para a cartografia dos enunciados teóricos que os realizadores emitem por meio da palavra. Os mesmos textos alertam, no entanto, que os filmes não deixam de ser “matéria-prima fundamental de investigação”. (PENAFRIA et al., 2017). Nesta comunicação, gostaria de concentrar-me em uma tendência dentro da Teoria dos Cineastas que se faz justamente na confrontação entre os textos e os filmes, isto é, entre os enunciados teóricos dos realizadores e o elemento sensível dos filmes. Recentemente, a terminologia relativa à dimensão sensível e afetiva dos filmes revela-se produtiva do ponto de vista teórico para análises em arte, comunicação e política. Fala-se, inclusive, em "affective turn". Toda uma tendência do cinema brasileiro contemporâneo tem sido analisada pelo viés dos afetos que produz. A partir desse contexto, gostaria de problematizar dentro da Teoria dos Cineastas a dimensão sensível das imagens. Estaria a Teoria dos Cineastas em outra tendência neste cenário, compreendendo o sensível das imagens como enunciados teóricos dos realizadores? A redução de toda a dimensão sensível da imagem a um enunciado seria um equívoco teórico, uma vez que um filme é, antes de tudo, uma produção que age em nível sensível. “O filme não é prioritariamente uma organização discursiva”, diz-nos Aumont (2008, p.22). É por isso que o autor insiste que os filmes não fazem teoria, como o texto, mas que podem, eventualmente, portar atos de teoria. Este equívoco teórico conduziria a, pelo menos, duas consequências práticas, que a Teoria dos Cineastas vem tentando evitar: a redução da dimensão sensível a uma intencionalidade teórica do autor; a conversão do elemento sensível à simples expressão de um significado teórico a ser decifrado pelo pesquisador. Portanto, voltando à questão anteriormente colocada, penso que a Teoria dos Cineastas não implica necessariamente a redução do sensível a um enunciado teórico subjacente. Nesse caso, entendo que a Teoria dos Cineastas pode ser compreendida como o resultado de um agenciamento feito pelo pesquisador entre os enunciados teóricos dos realizadores e aquilo que as imagens efetivamente produzem no âmbito do sensível. Nota-se que, neste caso, o pesquisador é o terceiro elo do processo, que agencia o sensível e o enunciado teórico. O pesquisador é alguém que, no ato de confrontar os discursos dos realizadores e o sensível das suas imagens, contribui efetiva e criativamente para fazer vir à tona uma construção teórica que estava anteriormente escondida e apenas em potência entre enunciados teóricos (muitas vezes simplórios) e o sensível das imagens. Para explorar empiricamente essas considerações, irei analisar a proposição da “Teoria do Monstro” e sua relação com a imagem em “O invasor”. Trata-se de um enunciado teórico do roteirista Marçal Aquino (BRANT e AQUINO, 2009), segundo o qual a violência no cinema é mais eficiente se permanece no nível da sugestão, sem desdobrar-se em violência gráfica na imagem. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. Pode um Filme Ser um Ato de Teoria? Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 33, n. 1, 21-34, jan/julho 2008. |