ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A outra voz: o uso da língua de sinais na linguagem cinematográfica |
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Autor | TATIANE MONTEIRO DA CRUZ |
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Resumo Expandido | Michel Chion (2011, 13) afirma que, “no cinema, o som é maioritariamente vococêntrico”. Isso significa que tal mídia favorece a voz, destacando-a de outros sons – mas e quando a voz audível não existe? Nos últimos anos, a partir da década de 2010, temos visto um uso frequente da língua de sinais nas narrativas cinematográficas. Como exemplo, podemos citar: A Gangue (The Tribe, de Miroslav Slaboshpitsky, 2014), A Forma da Água (The Shape of Water, de Guillermo del Toro, 2017) e Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, de John Krasinski, 2018). Até as séries televisivas estão usando esse elemento, como Trocadas ao Nascer (Switched at Birth, de Lizzy Weiss, com 5 temporadas de 2011 a 2017) e Van Helsing ( de Neil LaBute, com 3 temporadas de 2016 a 2018). Ainda que a língua de sinais esteja associada a personagens surdos ou mudos, tem se mostrado eficiente na linguagem cinematográfica por permitir explorar o silêncio, sem transformar o filme em uma obra ao estilo cinema mudo. Para a crítica Amanda Martinez (2014), do Cine Festivais, a língua de sinais constitui-se, além de idioma, uma linguagem cinematográfica inédita. O filme A Gangue (2014) foi o que mais explorou essa forma comunicativa e trouxe para as telas diálogos silenciosos sem tradução do que os personagens diziam e sem uma voz audível sequer, obrigando o espectador a sair de sua zona de conforto e aguçar a visão em detrimento da audição para a compreensão da narrativa. Muitas pessoas consideraram este filme uma obra de cinema mudo, mas não; é um filme sonoro, pois o silêncio também soa (SCHAFER, 1991). Um lugar silencioso (2018) apostou no uso da língua como meio de sobrevivência em um lugar onde o menor ruído pode significar a morte. A Forma da Água (2017) fez uso da língua como forma de comunicação entre dois seres que se consideravam diferentes para a sociedade – a personagem muda e o homem-peixe. Mais do que uma expressão linguística – pois são línguas naturais, com gramática própria e não são universais –, as línguas de sinais, na linguagem cinematográfica, permitem explorar formas variadas de construção narrativa e de comunicação, em que o silêncio se torna parte do discurso narrativo, representando, assim, uma outra voz: a voz do silêncio. Desde o surgimento do cinema sonoro, a voz sempre esteve presente nas narrativas. Os diálogos entre os personagens sempre foram audíveis. Mas agora surge uma nova possibilidade de dialogar e construir narrativas com paisagens sonoras e comunicação sinalizada, semelhante aos filmes de Chaplin, mas, ao mesmo tempo, diferente, uma vez que hoje temos tecnologia de captação e manipulação do som na montagem das cenas, o que nos permite brincar e explorar os efeitos do som e do silêncio. O presente estudo é um recorte da dissertação de mestrado intitulada “Filme A Tribo: mudanças de paradigmas na representação do surdo no cinema” (CRUZ, 2017), na qual há uma análise dos efeitos de som e silêncio no filme A Gangue (2014). Agora, com o surgimento de novos filmes, como A Forma da Água (2017) e Um Lugar Silencioso (2018), ampliam-se os objetos de estudo para uma análise dos efeitos do silêncio com o uso da língua de sinais. O estudo contou com abordagens teóricas de Michel Chion (2011), de Murray Schafer (1991; 2001) e de Eni Orlandi (2003; 2007). |
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Bibliografia | CHION, Michel. A Audiovisão. Lisboa: Texto e Grafia, 2011. |