ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Eu tô bandida: protagonismo feminino no audiovisual latino-americano |
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Autor | Luiza Cristina Lusvarghi |
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Resumo Expandido | Essa comunicação surge de um recorte sobre o protagonismo feminino e as relações de gênero efetuado a partir de um estudo sobre as séries latino-americanas criminais, em que foram catalogadas representações de mulheres no papel principal dentre 331 obras. As obras policiais e de suspense se apoiavam claramente no modelo estadunidense de mulher fatal, que era também o modelo dos filmes noir dos EUA. O ciclo noir é a principal vertente de narrativa criminal do cinema que vai contribuir pra assinalar em cena a entrada de um novo tipo de mulher-protagonista, como apontou Sylvia Harvey em seu ensaio pioneiro sobre o tema (1978). Essa influência se faria sentir também em obras ficcionais televisivas. A femme fatale do noir representava a mulher sedutora e perigosa, e para a new left, a ganância do capitalismo (Krutnik, 1991). Para Jameson (2016) a mulher moderna estaria representada de forma mais diversificada nessas obras. Na obra de Raymond Chandler surgem diferentes tipos de homens (o rico, o proletário), e também de mulheres, que ele classifica como arquétipos “inconscientes” tais como the belle dame san merci or the woman pal and likeable but non sexual-detective . Ao comparar o livro de Chandler com o filme de Altman, The Long Goodbye (1973), no entanto, ele encontra novas possibilidades. Surge a mulher fatal que Jameson (2016, p.855) denomina de vamp-murderess, ao lado da pal (colega), da profissional e da mousy girl (a mulher mignon, tipo boneca), que pode ser provinciana ou tímida. Jameson atribui o surgimento destas personagens associadas ao mateship (companheirismo), mas também à postura de medo diante da nova mulher, algo como uma reação retrógrada (backlash). É possível estabelecer um comparativo entre a femme fatale clássica com personagens das narrativas criminais latino-americanas como Rosario Tijeras, na série (2010) e filme (2005) homônimos, vivida por Flora Martinez, mas também com as detetives e investigadoras duronas vividas por Marina Segal, de Epitáfios, Diana Ramírez, da série peruana Ramírez (2015), e a justiceira Emília Urquiza de Ingobernable. O que vai permear a representação dessas mulheres dentro do imaginário cultural latino-americano é exatamente a mesma estrutura de sentimento que possibilita transformar Lampião em herói contestador, o mito do marginal romântico, do Robin Hood que roupa para distribuir aos pobres, e que se insurge contra o poder instituído que discrimina os pobres e oprimidos. O justiceiro é sem dúvida um desdobramento perigoso e bastante associado à ideia de bandido social, explorada por Hobsbawn (2015). Nos bandos organizados, eram poucos os casos de mulheres, cangaceiras e/ou bandoleiras, caso de Maria Bonita. Duas irmãs, série e filme, são exemplos bons ficcionais de como isso ocorria. Da mesma forma, a Rainha do Sul vai mostrar o lado feminino do tráfico. Mas há um tipo de personagem mais recente e baseada na realidade que podemos vislumbrar em La Nina, a série colombiana. Nela, uma jovem que foi sequestrada quando criança se converte em guerrilheira das Farc, mas acaba se desvencilhando do grupo e participando de um programa de reabilitação do governo. O banditismo é um ritual de passagem por meio do qual o excluído pode se afirmar. As protagonistas femininas nas narrativas criminais latino-americanas no cinema e na televisão alimentam o conceito de marginal romântico. Em narrativas recentes, como as séries de temática narco, são “bandidas por acaso” como Teresa em La Reina del Sur, e Rosario Tijeras, filme e série, mas também anti-heroínas como a policial durona como Marina Segal em Epitáfios, com ligações profundas com o mundo do crime. O cinema sobre o narcotráfico reproduz relações de poder. No entanto, deixa claro que as instituições sociais estão completamente falidas, e que, portanto, há um deslocamento dentro das funções sociais, que atinge as relações de gênero (MERCADER, 2012, p. 234). |
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Bibliografia | HARVEY, Sylvia (1980). The Absent Family of Film Noir in Women in Film Noir, KAPLAN, E.Ann ev. ed.; London: British Film Institute. |