ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Raça e classe em A nova mulher (1974) |
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Autor | Karla Holanda |
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Resumo Expandido | Embora a história esteja repleta de momentos em que mulheres reivindicaram igualdade de direitos, suas lutas se constituirão em um movimento, agrupando muitas em torno de determinadas bandeiras, somente no século XIX. Na origem do movimento feminista organizado, está o movimento abolicionista, cujo marco nos Estados Unidos é o ano de 1831, quando a população negra se rebela contra a escravidão. Por não precisarem trabalhar, diferente das operárias e das mulheres escravizadas, as mulheres brancas de classe econômica mais elevada estiveram à frente de campanhas antiescravagistas. Esse engajamento era também uma porta que se abria para iniciarem protestos implícitos contra a opressão que a desigual relação de poder no próprio ambiente doméstico lhes infligia – era uma oportunidade para exercerem liderança e praticarem suas oratórias, desafiando a supremacia masculina (DAVIS, 2016). Mesmo vivido com tensões, as lutas pela libertação negra e pela libertação feminina foram ricas para as duas categorias e lhes pareceram indissociáveis. A base do feminismo construído por essas mulheres demandava direitos iguais aos homens, direito ao voto, direito de trabalhar fora de casa. Entretanto, esses lemas não causarão mobilização entre mulheres negras ou mulheres da classe trabalhadora, que, afinal, já trabalhavam em casa e também nas fábricas e nos campos, cumprindo penosas duplas jornadas de trabalho. Além do mais, outras camadas de opressão, como racismo e diferença de classe, muitas vezes se sobrepunham como prioridade entre elas. Essa diferença de perspectivas persiste e ainda hoje não é incomum se deparar com representações em que determinados sujeitos se colocam como universais (SCOTT, 1992). bell hooks diz que os negros nos Estados Unidos, desde que tiveram acesso à televisão, eram conscientes de que essa mídia era um sistema que reproduziria a supremacia branca e frequentemente zombavam de representações brancas da negritude que viam em alguns programas (hooks, 1992). Desenvolvendo essa contextualização, iremos analisar o filme de média metragem de Helena Solberg, A nova mulher (The emerging woman, 1974). O filme se introduz com a constatação da dificuldade de por onde começar, uma vez que a invisibilidade da mulher na história é tão avassaladora. Diz a voz over do início do filme, enquanto fotos de mulheres brancas, negras, ricas, pobres, jovens, mais velhas são intercaladas: "Até onde temos que voltar ao passado para descobrir por onde começar? Procuramos nos livros de história e não há nenhum sinal de nós. Do que nos lembramos? Temos apenas nossas memórias e as histórias que contamos entre nós. Foi sempre assim? Há quanto tempo vivemos como reflexos, imagens sem conteúdo, para vermos nossas filhas repetirem as mesmas vidas, mais uma vez? Nossas mães e avós, como elas se sentiam? Donas de casa. Humanidade. Palavras... o que elas realmente significam? Família. “Famulus”: escravo doméstico. Família: o número de escravos pertencentes a um homem." Esse filme, montado com cerca de 300 fotografias e poucas imagens em movimento, e várias vozes a dramatizar falas de feministas históricas, foi o primeiro realizado por Solberg no início de sua temporada de três décadas nos Estados Unidos. Para sua própria surpresa, considerando a baixa pretensão ao realizá-lo, o filme foi adquirido pelo governo dos Estados Unidos para integrar as comemorações do Bicentenário da Independência, em 1976, sendo bastante exibido em circuitos alternativos, como universidades e escolas (TAVARES, 2014). A questão que nos colocamos nesta proposta é identificar quais diálogos e interlocuções Solberg estabelece ao abordar aspectos interseccionais, como raça e classe, de maneira tão precoce no cinema. |
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Bibliografia | DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. |