ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Fora do Jogo: A adolescência no cinema brasileiro contemporanêo |
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Autor | Lucas Rocha Coimbra da Silva |
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Resumo Expandido | É notável no cinema brasileiro contemporâneo os esforços em relação à representação da adolescência, os quais abrangem cada vez mais toda sua pluralidade de vivências, sejam elas devidos à fatores regionais, sociais (culturais, econômicos) ou de ordem emocional. O presente trabalho busca analisar essa diversidade de filmes, e as escolhas estéticas de seus diretores ao retratar os jovens e adolescentes brasileiros, tendo como principal foco de análise as produções A Vizinhança do Tigre (Affonso Uchoa, 2014) e Os Famosos e Os Duendes da Morte (Esmir Filho, 2009). A idade biológica que traz a chamada "adolescência" é um período de inúmeras mudanças na vida de um indivíduo, no qual ele é colocado em uma parcela separada da sociedade e, ainda sem a capacidade econômica dos adultos, luta para entender melhor a si mesmo e quais caminhos seguir dali em diante. É o que Pierre Bordieu chama de no man’s land social, isto é, o jovem de irresponsabilidades provisórias, que para algumas situações é adulto, e para outras, criança. O autor complementa sua tese afirmando que esse é um dos efeitos mais poderosos decorrentes da situação do adolescente: a “existência separada que os coloca socialmente fora do jogo” (Bordieu, 1983, p.4). “Fora do jogo” é uma expressão que serve muito bem para definir o lugar social dos personagens apresentados no filme A Vizinhança do Tigre (Affonso Uchoa, 2014). Na narrativa em que ficção e documentário parecem se confundir, o retrato dos jovens e adolescentes moradores do bairro Nacional, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, dá uma outra dimensão do quão fora de jogo socialmente alguém pode estar. Entrar nesse mundo e retratá-lo com honestidade foi um desafio que Affonso Uchoa dominou através de uma estética realista que dá voz, forma e espaço aos corpos adolescentes que preenchem a tela com atuações tão fortes quanto a própria realidade que os rodeia. Seguindo um caminho diferente, e quase oposto (tanto do ponto de vista da geografia quanto da linguagem), Esmir Filho buscou inspiração no romance Os Famosos e os Duendes da Morte, de Ismael Caneppele, para retratar a vida de outro adolescente fora do jogo. O filme de 2009 lança um olhar sensível à vida de um jovem que se vê isolado do mundo em uma pequena cidade no vale do Rio Taquari, no extremo sul do Brasil. Uma região de clima frio e úmido, na qual uma colônia alemã se instalou no século XVIII e se manteve isolada desde então em suas crenças e costumes. Esmir Filho trabalha a fotografia delicada e a edição de viés mais experimental do longa-metragem para construir essa atmosfera que cerca um protagonista dividido entre seus desejos potencializados pelas possibilidades de acesso ao mundo através da internet e as tradições coletivas ancestrais da cidade onde vive. O recorte de vida do protagonista de Os Famosos e os Duendes da Morte dialoga com o que o pensador francês Edgar Morin (1967) identificou como um período de contestação das estruturas já estabelecidas e caminhos predeterminados pelos adultos, sendo assim o momento em que o jovem desenvolve afinidade com o niilismo frente às suas próprias escolhas. Ambos os filmes aparecem como um potente avanço em direção a um cinema capaz de contemplar muitas das camadas de subjetividade e das questões complexas que atravessam a juventude brasileira, no caso, as experiências de uma adolescência periférica, ainda que opostas entre si. Quando um filme é colocado ao lado do outro, têm-se a dimensão da diversidade de vivências jovens possíveis em um país continental, tão marcado por suas desigualdades sociais e discrepâncias geográficas. A análise das disparidades e semelhanças entre as duas obras, que percorrem diferentes caminhos e assumem diferentes escolhas para compor o mesmo universo temático, nos permite entender a importância de um olhar mais zeloso para as novas histórias brasileiras protagonizadas por jovens e adolescentes. |
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Bibliografia | MORIN, Edgar, “Juventude” in: Cultura de Massas do Séc. XX – O Espírito do Tempo – NEUROSE, Forense-Universitária, Rio de Janeiro, 1967. |