ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Intermedialidade e Imagem-síntese em As Mil e Uma Noites- volume 2 |
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Autor | Thalita Cruz Bastos |
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Resumo Expandido | Miguel Gomes faz parte da nova geração de cineastas portugueses que despontou no início dos anos 2000, seguindo o caminho aberto por nomes como Manoel de Oliveira e Pedro Costa. Desde seu primeiro longa metragem, A Cara que Mereces (2004), juntamente com os curtas que realizou anteriormente, o cineasta vem apresentando traços de uma combinação entre humor inteligente, realismo e nonsense, que unidos funcionam como uma forma de questionar a produção cinematográfica contemporânea, ao mesmo tempo que propõe reflexões sobre questões reais e relevantes da sociedade portuguesa atual. Os filmes de Miguel Gomes colocam o espectador num lugar ativo, no qual é necessário responder o filme de alguma forma, estar aberto para as impressões e sensações produzidas e despertadas pela imagem. O diretor defende o papel da memória do espectador na experiência fílmica. A trilogia d’As Mil e Uma Noites (2015) se caracteriza por um conjunto de filmes que embaralham claramente as fronteiras entre documental e ficcional, realismo e fantasia. Miguel Gomes inspira-se no livro As mil e uma noites para contar histórias de Portugal contemporâneo, criando um espaço fílmico complexo, no qual personagens ficcionais e habitantes de diversas regiões dos países se encontram para tentar responder as demandas desse momento conturbado na história de Portugal. Nosso objeto para esse artigo é o Volume 2: O Desolado, em que há uma excelente compilação dos diversos fatos jornalísticos apurados para a realização do filme, através de um estratagema, uma imagem-síntese, a história “As Lágrimas da Juíza” (minuto 161). Uma juíza preside um tribunal a céu aberto no meio de uma floresta. É um tribunal alegórico que vai julgar os crimes diários cometidos pelo povo português, todos eles, dos mais absurdos aos mais simples realmente aconteceram em Portugal no período das gravações, e foram registrados pelos jornalistas. É como se formasse um círculo interminável de culpas e misérias das pessoas que assistem o julgamento. Tanta incoerência e excesso de reclamação leva a juíza às lágrimas, exausta e se sentindo incapaz de julgar todos aqueles crimes. Esse momento, nos inspira a enxergar a produção de uma imagem-síntese nos filmes, ou seja, uma imagem que vai conjugar elementos antagônicos, as tensões que permeiam a narrativa, todos essas expressas na imagem a um só tempo. A pesquisa jornalística realizada a fim de inspirar a elaboração do roteiro do filme também funcionou como uma fonte de informação sobre Portugal. O blog que existe até hoje contém as notícias apuradas pelos jornalistas e que formaram a base factual que inspirou o roteiro do filme. O processo de filmagem utilizou a abordagem documental enquanto método, além de elementos do realismo mágico e da fábula. A estrutura do livro As Mil e Uma Noites serviu de conector, que mantém a coesão de todas as histórias. Uma trilogia baseada em uma cobertura jornalística realizada em Portugal durante um ano, coloca em debate elementos do jornalismo, da narrativa fantástica, da fábula, da literatura clássica, do documentário, e ainda da experiência da realidade vivenciada pelos portugueses membros da equipe. Para nossa análise do segundo filme da trilogia de As Mil e Uma Noites iremos combinar as reflexões de Ágnes Pethö sobre o aspecto performático da intermedialidade, o conceito de imagem-síntese desenvolvido por Thalita Bastos em sua tese de doutorado, o conceito de evento apresentado por Alain Badiou, e as reflexões de Jacques Rancière sobre a fábula cinematográfica. Nosso objetivo é refletir sobre o uso da intermedialidade no cinema como produtora de imagens-síntese no interior das narrativas. |
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Bibliografia | BADIOU, Alain. The ethic of truths. In:_____. Ethics: An essay on the understanding of evil. London and New York: Verso, 2012. P.40-57. |