ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Vanitas: decomposição da matéria, recomposição do tempo |
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Autor | Manuela de Mattos Salazar |
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Resumo Expandido | Visamos aqui continuar a investigação iniciada na comunicação de 2017 a respeito da temporalidade em obras visuais contemporâneas que discutem a tradição do gênero das naturezas mortas. Transposições entre estática e movimento, acelerações e desacelerações, estratégias de montagem como time lapse e loop, além novas tecnologias de captação de imagens engendram camadas de um tempo elástico que foge da ideia do instantâneo ou da linearidade. Matéria do tempo e tempo da matéria: os artistas que vamos pesquisar nesta comunicação discutem a decomposição da matéria, por meio de estratégias de aparente decomposição e recomposição do tempo e do movimento, herdadas dos primeiros experimentos de Marey ou Muybridge e da evolução dos meios cinematográficos e fotográficos. Nas obras a serem estudadas, acelerações, paradas e desacelerações concedem outra dimensão visual aos objetos retratados ao engendrarem tempos sui generis: o estático devém movimento, a morte devém vida e a poesia visual se desprende nestes paradoxos. Pesquisaremos inicialmente quatro trabalhos: os filmes Still Life (2001) e A Little Death (2002) da artista americana Sam Taylor-Johnson (na época, Sam Taylor-Wood), o filme Domestic Nature Morte (2004), da artista finlandesa Saara Ekström e a série de fotografias Stilleben (2001-2007) do fotógrafo alemão Michael Wesely. Em comum, como dissemos acima, estes trabalhos discutem a decomposição da matéria. Em Ekström, o trabalho projetado em grande escala na parede mostra uma travessa com tomates que, conforme montagem em loop acelerado, amolecem, se desmancham e apodrecem para em seguida, em um processo de inversão, se tornarem novamente suculentos. Similarmente, em Still Life de Taylor-Johnson, em uma renascentista travessa, pêssegos se decompõem de maneira acelerada através de uma montagem em time lapse. Já em A Little Death, uma lebre sofre um violento processo de decomposição sobre uma mesa, parecendo movimentar-se no processo. Por fim, o trabalho de Weseley mostra, a partir de sua técnica de longuíssimas exposições, o processo de decadência e decomposição de arranjos florais, ao longo de períodos como uma semana, em apenas uma imagem fotográfica. “O vídeo de Taylor-Johnson retoma as históricas naturezas mortas de Flandres, que convidavam as pessoas a contemplarem a passagem do tempo. Aqui, os espectadores veem o tempo acelerar em sua frente” (PETRY, 2013, p. 186). Em todos os trabalhos que vamos pesquisar, pretendemos investigar, além das contradições temporais, as suas relações com a tradição da vanitas. De fato, nestas obras, a elasticidade temporal parece demonstrar a própria realização do ideal deste tipo de natureza morta: ser um espaço de contemplação da passagem inexorável do tempo, e a inevitabilidade da morte. Na vida, a eternidade da matéria é inalcançável, mas na natureza morta as coisas são eternas enquanto imagens. Vamos, portanto, investigar estas composições, decomposições e recomposições do tempo e da matéria, a fim de contemplarmos o lugar que ocupam na tradição pictórica das naturezas mortas, e as diferentes temporalidades que engendram, em um contexto contemporâneo de apreço à ruína, de objetos e matérias que jamais se degradam, e de um impulso de contemplação de imagens de morte. |
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Bibliografia | BRYSON, Norman. “Looking at the Overlooked – Four Essays on Still Life Painting”. London, 2012. |