ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | André Abujamra e a autoria camaleônica em trilhas do cinema brasileiro |
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Autor | GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA |
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Resumo Expandido | Este trabalho expõe os resultados da pesquisa de doutorado (Souza, 2018) que buscou investigar a obra musical de André Abujamra no cinema brasileiro, em longas-metragens de ficção, a partir da Retomada, verificando a relação entre seu processo criativo, a realização cinematográfica e a existência de sua autoria estabelecida ao longo da carreira. Partindo da hipótese de haver traços comuns às obras do compositor para filmes e sua música em disco – a partir de análise fílmica (Aumont e Marie, 2004), investigação biográfica (entrevistas com o artista, diretores e parceiros) e da audição da discografia do artista –, e considerando diferentes contextos de composição e produção musicais, chegamos àqueles que acreditamos ser seus principais traços de autoria. Analisamos as relações entre a música de Abujamra e os demais elementos sonoros e visuais em filmes para os quais ele compõe. Investigamos as implicações da música em relação aos demais elementos sonoros e imagéticos, bem como o processo criativo, modos de produção, parcerias, relações e negociações; enfim, o lugar do compositor no processo de realização cinematográfica. A investigação foi embasada em formulações teóricas de autores nacional e mundialmente consagrados, como Gorbman (1987), Chion (1993; 2004), Carrasco (1993), Costa (2008), Matos (2014), entre outros. Se “música é qualquer som” e também silêncio, como considera o compositor, a fluidez entre as sonoridades criadas por Abujamra e outros elementos sonoros dos filmes de que participa como compositor é esperada e configura uma das marcas de seu trabalho no cinema. Percebemos também aproximações entre estas trilhas, compostas em diferentes contextos e condições de realização para atender a demandas narrativas fílmicas particulares, e aspectos de sua obra discográfica, desde a negação, no caso desta última, a se curvar às exigências de lucro da indústria – alterar integrantes de banda, sua sonoridade e a própria imagem para aumentar a visibilidade ante a um público massivo – até aspectos estético-musicais, como a mistura de timbres de sonoridades distantes acumulados em suas livrarias digitais, a densidade de texturas, as batidas eletrônicas, o gosto pela música sinfônica, a valorização do caráter gestual da voz – tornada ritmo, ruído e/ou idioma estrangeiro. Uma vez que o artista compreende que o filme é mais importante e é para este que a música trabalha, ele começa a buscar formas de se tornar ‘visível’ enquanto autor, quando negocia, por exemplo, fazer figuração como ator, ou quando cede as próprias canções de sua discografia para filmes de amigos. Tais estratégias tensionam o lugar do compositor musical de cinema, uma vez que colocam em discussão os limites de interferência não apenas da música, mas de seu compositor, no filme. Mesmo que em seu discurso Abujamra consiga discernir os limites entre suas trajetórias no cinema – invisível, para que o filme se torne visível – e como artista pop – necessariamente visível –, o caráter intuitivo e impetuoso de seu processo composicional – declarado pelos parceiros Márcio Nigro, Lulu Camargo e por ele mesmo, em entrevistas (2016) – o conduz a uma tendência de encurtar as distâncias entre essas diferentes direções – o que o coloca, por vezes, em camadas superpostas de atuação: música original, música preexistente e ator coadjuvante, em voz e corpo, som e imagem. Persiste o tensionamento entre uma postura ainda romântica de Abujamra em relação às suas criações e o desapego exigido do compositor no cinema, consequência da proximidade com que ele mesmo conduz suas frentes de trabalho. Se ser compositor de trilhas para filmes é, em alguma medida, compartilhar a autoria com o diretor, como conciliar este papel com a extrema atenção recebida em performances no palco? Tendo tal dilema em vista, elencamos brevemente, neste trabalho, os elementos que constituem as principais marcas da música de Abujamra para cinema e confirmam o caráter camaleônico de sua autoria. |
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Bibliografia | ABUJAMRA, André. André Abujamra: depoimento [mar. 2016]. São Paulo, 2016. |