ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Devir histórico e imagens arquivo: Retratos de Identificação |
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Autor | Raquel do Monte Silva |
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Resumo Expandido | Partindo do filme Retratos de Identificação (2014), dirigido por Anita Leandro, buscamos cartografar uma constelação de imagens que colocam em narrativa a experiência histórica vinculada à Ditadura Militar no Brasil e aos processos de repressão. Para tanto, lembramos de Arlette Farge (2009), uma historiadora francesa especialista no século XVIII, para pensar duas questões: a relação com os arquivos e como o gesto do historiador pode dar conta do sofrimento, das “suspensões trágicas da felicidade”. No documentário, encontram-se o rescaldo de 1968, o “curto ano de todos os desejos”. Deste modo, consideramos que o cinema é um portal que reverbera uma forma de pensamento, tudo materializado no campo das imagens e da linguagem fílmica. Sendo assim, reencontrarmo-nos com a história evocada na narrativa construída pela realizadora é refletir também sobre as memórias e o dispositivo construído. O filme Retrato de Identificação reflete uma experiência singular dentro da cinematografia brasileira que dialoga com o período da ditadura militar e, em especial, com os eventos ocorridos pós 13 de dezembro de 1968, data da emissão do decreto Ato Institucional de Número 5, o AI-5 . Neste sentido, a hipótese que norteia nossas reflexões, considera que os episódios de perseguição, tortura, prisão e morte trazidos à tona no documentário ecoam o espírito da resistência de 68. O desejo de imergir nesse passado histórico é o gesto inicial do filme de Anita Leandro, já que ele é calcado na reconstituição da memória de quatro personagens: Antonio Roberto Espinosa, Maria Auxiliadora, Chael Schreier e Reinaldo Guarany, vítimas do regime militar brasileiro (1964-1985). Os três primeiros do grupo integravam a resistência armada VAR-Palmares e Reinado era membro da Ação Libertadora Nacional. Maria Auxiliadora, codinome Chica, é o ponto de contato entre os três outros estudantes. Retratos de identificação é concebido visualmente a partir da aparição na tela dos documentos oficiais, legados do Estado repressor, - fotografias, mug shots, laudos, inquéritos policiais, etc – e da presença dos personagens (através da presença física, quer seja ela em voz over ou através do enquadramento frontal) que acrescentam uma nova camada de significado às imagens, impregnando-as de um novo estrato sensível e possibilitando um mergulho testemunhal naquele momento histórico que se constitui uma ferida aberta no imaginário brasileiro. Narrativamente o filme é dividido em três partes – apresentação dos personagens e ocasião da prisão, a tortura e os momentos pós-prisão. Logo nos primeiros planos percebemos através da tela preta, que acolhe a aparição dos documentos oficiais e que simbolicamente representa o luto para nós, o quanto a atmosfera de dor e morte é presentificada na construção da cronologia que o filme institui. Para disparar a aparição das narrativas em torno das prisões, mortes e torturas que envolvem as vidas daqueles estudantes, o dispositivo apresentado para o processo de construção da narrativa dá-se na dobra esboçada a partir do encontro das fotografias, ou melhor dizendo, dos retratos de repressão com as duas pessoas que sobreviveram, Reinaldo e Roberto. Tal gesto fratura o modo clássico de se construir narrativas no documentário, tendo em vista que o uso da entrevista e os lugares de entrevistado e entrevistador integram a gramática fílmica e o desejo de se gotejar o real. Neste caso, então, é o encontro com o arquivo que dispara o processo que se constitui como o leitmotiv do documentário. Dito isso, informamos que trabalharemos com uma epistemologia construída a partir da fricção dopensamento de George Didi-Huberman, Walter Benjamin e Jean-Louis Comolli, considerando que eles reverberam ideias e conceitos ligados à significação das imagens, o campo do documental e o fazer histórico. Do ponto de vista metodológico, nossa aproximação com o objeto de estudo irá se ancorar nos escritos de Arlette Farge e como podemos nos relacionar com os arquivos. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Crisis de la novela. Sobre “Berlín Alexanderplatz” de Döblin. 1930. Acesso em: 01/02/2018. Disponível em: |