ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | CINEMA E VIOLÊNCIA: O TEATRO POLÍTICO DO MEDO NO FILME ALEMÃO (2014) |
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Autor | Andrei Maurey |
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Resumo Expandido | Para John B. Thompson (2009), a ideologia é o sentido atrelado às formas simbólicas no intuito de manter e sustentar relações de dominação. Distanciando-se de uma perspectiva neutra de ideologia, o autor norte-americano se debruça sobre os modos com que as formas simbólicas se entrecruzam com as relações de poder e como o sentido impulsiona o mundo social, servindo para reforçar essas relações de dominação. E há inúmeras maneiras para isso, principalmente ao prestarmos atenção à interação entre sentido e poder nas instâncias da vida social, isto é, através dos modos de operações gerais da ideologia, atrelados a estratégias típicas de construção simbólica. Eles são: Legitimação, Dissimulação, Unificação, Fragmentação e Reificação. Nosso artigo tem por objetivo verificar esses modos de operações da ideologia sendo reproduzidos nas formas simbólicas do filme Alemão (2014). Afinal, é inegável que o medo e a violência ocupam um notório espaço nas narrativas representadas pela mídia em geral (televisão, rádio, internet, jornalismo). A forma como essas narrativas são constantemente representadas, reforçando significados que corroboram com práticas sociais e políticas, inclusive imbuídas de inúmeros valores e crenças, nos leva a questionar: quais estratégias estariam por trás dessas narrativas? Que formas simbólicas da violência legitimam e justificam essas práticas? Em muitos assuntos representados pelo cinema em geral, pode-se encontrar discursos frequentemente travestidos de interesse público, assinalando a violência como algo que deva ser combatido através de ferramentas e medidas que somente protegem os privilégios de uma classe hegemônica. As camadas populares, orientadas por essas constantes notícias e representações, defendem, em sua maioria, essas ideias, acreditando fielmente se tratar de um fenômeno caótico, capaz de ser solucionado unicamente através dessas estratégias. Com isso, reproduz-se a consciência engessada dessa elite, cujos propósitos favorecem unicamente seus interesses particulares e não os de caráter universal. Há interesse em acabar com a violência? Podemos apontar, por exemplo, os diversos benefícios materiais de seu alastramento no tecido social, criando e desenvolvendo novos mercados, tais como câmeras de segurança, armas de curto e grosso calibre, portões de ferro, blindagem em veículos e imóveis, sistemas de alarmes, segurança particular, a especulação imobiliária através da gentrificação de espaços públicos, a criação de shopping centers gigantescos para atender às crescentes demandas de compras em locais seguros, etc. De antemão, indagamos: se por si só, o medo e a violência são responsáveis por mover vastos mercados, cujos lucros nem ousamos calcular, a quem interessa o fim da guerra ao narcotráfico? No mundo contemporâneo, a enorme quantidade de informações veiculadas pela imprensa transforma a experiência, colocando-nos em direto contato com a violência, "como se estivéssemos lá", como se todos os acontecimentos cotidianos fizessem parte da nossa realidade individual. Além disso, o medo é imposto e difundido verticalmente através de um teatro midiático. O medo, portanto, ganha novas proporções à medida que é moldado em paralelo com as perspectivas de implementação de um modelo neoliberal, fabricando uma "crise da segurança pública". Se a adesão ao crime é algo existente, de difícil combate e visivelmente presente no cotidiano das grandes cidades, o caminho para transformá-lo em algo caótico é mais fácil, recebendo em troca o apoio da população para a implantação de políticas de lei e ordem. Por fim, com a análise do filme, iremos observar como os policiais e os bandidos são retratados, em busca de uma reprodução ideológica que sustente relações de dominação de classe, que tipo de violência é representada e quais fatores da narrativa apontam para o combate à essa violência urbana através de medidas sociopolíticas que defendem apenas os interesses da minoria dominante. |
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Bibliografia | BATISTA, Vera Malaguti. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro: Revan, 2003. |