ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | MULHERES CINEASTAS E ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA: TESSITURAS DA OBRA-VIDA |
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Autor | Juslaine de Fátima Abreu Nogueira |
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Resumo Expandido | Esta comunicação insere-se em uma pesquisa sobre a obra de algumas cineastas, a fim de tentar cartografar seus pensamentos cinematográficos, bem como identificar pistas de como estes reverberam nos corpos e nas experiências destas mulheres artistas, em suas existências singulares e coletivas. Desse modo, no escopo deste trabalho, toma-se como fonte de investigação os filmes Os catadores e Eu (1999) e As Praias de Agnès (2008), produções de Agnès Varda, bem como Olhos de Ressaca (2009) e Elena (2012), de Petra Costa, buscando conexões entre a produção artística e o pensamento político-estético manifestados por estas duas cineastas (em entrevistas, depoimentos, artigos) - uma de origem europeia, outra latino-americana, situadas em tempos diferentes da vida, uma na velhice, outra na juventude -, notadamente no tocante ao que tais manifestações podem sinalizar sobre uma busca pela elaboração da vida na e como obra de arte. Para tanto, esta pesquisa busca amparo nas contribuições de Michel Foucault sobre estética da existência, entendida aqui como um trabalho de subjetivação que é tanto a realização de uma crítica do mundo existente, quando o convite a construir um mundo-outro. A aposta é que, potencialmente, as produções realizadas por mulheres têm apontado para uma atitude estética cuja busca tem se materializado de modo indissociável de uma atitude ética, em que vida e arte não se separam, configurando uma exigência que poderíamos dizer ético-político-estética da mulher-artista e sua inserção no mundo. Neste espectro, este trabalho mobiliza-se pela interrogação sobre como a arte e a vida corporificada ressoam, indissociavelmente, uma atitude que busca criar outros modos de existir, ecoando radicalmente em outros modos do viver consigo mesma e do viver-em-comum. Em outras palavras, inquieta-nos refletir como uma atitude epistemológico-artística realizada por mulheres cineastas pode constituir-se numa outra relação consigo, instauradora de uma manifestação da verdade que se materializa no próprio corpo-artista e no próprio corpo-artístico. A contemporaneidade tem apontado para um amadurecimento importante de um modo de pensar feminista que tem se movimentado num questionamento das mulheres sobre seu estar no mundo, sobre os regimes político-normativos que interceptam seus corpos e suas vivências e, portanto, esta caminhada feita por mulheres, em toda a multiplicidade das suas experiências, suspeita-se, pode estar gerando uma nova reivindicação ética, localizada neste encontro que insiste numa certa exigência de coerência e inseparabilidade entre a vida-artista, a atitude vivida consigo e o outro, e a vida-artística, a atitude ecoada na obra de arte, distanciando-se dos argumentos hegemônicos que têm validado a arte pela arte. A hipótese, portanto, que sustenta esta pesquisa é a de que há um encontro entre uma filmografia protagonizada em muito por mulheres cineastas, suas escolhas estéticas e sua linguagem fílmica fulgurando um pensamento e uma teorização que apontam para a construção de uma ética-estética da existência, ou seja, que sinalizam, no sentido foucaultiano, a atitude de pensar a própria vida como obra de arte e, neste sentido, apontando possibilidades de resistência, uma vez que tais filmes têm significado a busca por uma narrativa de si, na condição do escancaramento de experiências femininas múltiplas que têm buscado uma (re)invenção de si e da relação com o mundo e outro por meio de uma tessitura da vida na obra de arte e como obra de arte. |
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Bibliografia | BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. |