ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | O Foley entre o ator, o artista de Foley e o editor |
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Autor | Débora Regina Opolski |
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Coautor | Luis Bourscheidt |
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Resumo Expandido | Os sons de Foley são os sons relativos à movimentação dos personagens, gravados em estúdio, em sincronia com a imagem. Essa é a definição clássica da prática originada no final da década de 20, a partir da ideia de Jack Foley de sonorizar as ações relativas aos movimentos dos personagens da cena. A partir desta definição, embora pareça incoerente tratar da categoria de som chamada Foley de modo compartilhado entre os personagens do ator, do artista de Foley e do editor, esse é um processo comum, especialmente em filmes de baixo orçamento. O curta-metragem Tentei dirigido por Laís Melo, foi realizado com incentivo do fundo livre municipal de Curitiba. Essa informação se torna relevante, na medida em que o baixo orçamento foi crucial para a decisão de elaborar o Foley a partir da gravação do som direto, pois não haveria orçamento suficiente para refazê-lo inteiramente na pós produção. Como todas as escolhas realizadas no audiovisual, a opção pela utilização da performance compartilhada entre personagem, artista de Foley e editor resulta em implicações estéticas de expressividade e de estilo. A principal delas diz respeito aos índices sonoros de pertencimento ao espaço físico. A gravação conjunta dos ambientes, Foley e vozes resulta em uma sonoridade monoaural, em que os elementos sonoros estão vinculados em um mesmo arquivo de áudio, o que dificulta a espacialização. Ainda que se exclua todas as questões de inserção de ambiente estéreo e/ou 5.1, quando existe a necessidade de espacializar o Foley, direcionando-o para o lado esquerdo ou direto da tela, toda a gravação de som direto, ou seja, todo o ambiente sonoro resultante do som direto é deslocado em conjunto com o Foley. Outra questão é necessidade de produzir um Foley na pós produção com as mesmas características sonoras (no que diz respeito aos parâmetros do som e aos índices de pertencimento ao espaço físico) do som direto. Partindo da premissa básica da edição de imagem e som no cinema da transparência, é importante que todos os elementos possuam um fluxo suave e consistente com características sonoras semelhantes o suficiente para que a ilusão da continuidade seja mantida. Isso significa que a sonoridade do Foley criado na pós produção precisa estar inserida no som direto, de forma que seja impossível percebê-la como diferente dos outros sons provenientes da captação. Esse conjunto de diversidades também é reforçada pela coexistência de três visões distintas de expressão sonora. O ator interpreta o personagem conectado fisicamente e corporalmente a ele. Este vínculo é reforçado inclusive pela imagem que registra os movimentos que surgem daquele corpo. O artista de Foley interpreta o personagem de forma a criar sonoramente os movimentos de um corpo que não pertence à ele. Por sua vez, o editor de Foley reorganiza esses movimentos sonoros recriados pelo artista, de forma a conectá-los com a expressividade dos movimentos do personagem inicial, adicionando uma outra camada de expressividade à trilha sonora. Sendo assim, neste processo, a sonoridade é resultante de três expressividades diferentes. Quer dizer, existem três personalidades que dividem a incumbência de expressar os sons dos movimentos do personagem: o ator, o artista de Foley e o editor. Esta comunicação pretende discutir algumas questões para estimular o pensamento crítico e analítico sobre o estilo de som que resulta da prática de mesclar os sons de Foley gravados no som direto com outros sons criados na pós produção. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. São Paulo: Editora da Unicamp, 2013. |