ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Espaços no Escuro |
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Autor | Marina Mapurunga de Miranda Ferreira |
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Resumo Expandido | Com a hegemonia da “forma cinema” (PARENTE, 2009) e com o avanço dos sistemas de reprodução sonora em sincronia com a imagem, o tempo sonoro do filme se torna diferido, preso a imagem projetada. Em meados do século XX, em um contexto de ruptura das fronteiras entre as artes, surgem artes híbridas, subcategorias artísticas, emergem novos galhos na árvore genealógica das artes. A música e o cinema são repensados, problematizados. Entre várias experiências sonoras e cinematográficas, voltamos a um cinema onde o som é executado em tempo real, porém, onde as imagens projetadas na tela seguem, talvez, mais livres, sem uma timeline definida. Esse cinema traz ferramentas de seu tempo, como softwares para a manipulação das imagens e sons. Surgem também novos espaços. No live cinema, por exemplo, Mia Makela (2006, p. 25-33) comenta que o espaço do cinema é ampliado, pois além do espaço da projeção (onde as imagens são projetadas), da performance (onde ocorre a performance, p. ex.: o palco) e físico (espaço compartilhado entre público e performer), há mais dois outros espaços: o espaço da memória RAM (Random Access Memory), relacionada ao desempenho do laptop/computador e o espaço do desktop, que é o espaço de trabalho para os artistas de performance com laptop. Neste trabalho, analiso os espaços que se relacionam ao som que é realizado em tempo real no filme Medo do Escuro (Ivo Lopes Araújo, 2014). Medo do Escuro se passa na cidade de Fortaleza em uma Era Pós-apocalíptica onde um homem inquieto sobrevive, se deparando com o bem e o mal. O que nos interessa aqui são as exibições deste filme, onde a montagem visual e sonora estão em tempos diferentes. A montagem visual tem tempo diferido, gravado e já pré-editado, enquanto a montagem sonora se reconstrói a cada exibição, é realizada em tempo-real. Os dois tempos se unem para a criação de uma montagem audiovisual efêmera, constituída de acasos, treinos e uma imagem já determinada. A “banda do filme” é composta por parte da equipe que participou da etapa de produção do filme: o diretor Ivo Lopes (nos sintetizadores, vocalizações e efeitos); o ator Uirá dos Reis (nos samples de sons ambientes, vocalizações, sintetizador e percussão de objetos); a diretora de arte Thais de Campos (no sintetizador, percussão de objetos, vocalizações e bateria eletrônica) e o músico Vitor Colares (na guitarra, efeitos, percussão de objetos e vocalizações). O espaço da projeção se torna o espaço guia para a performance sonora, é esse espaço que determina o tempo da composição sonora. As imagens funcionam como uma partitura gráfica para a banda. O espaço da performance e o espaço físico podem influenciar na imersão que o público tem com a obra. O espaço da memória RAM e o espaço de trabalho são importantes para o andamento da performance sonora. Incluindo novos espaços nas propostas de Makela, proponho aqui o espaço audiovisual e o espaço acústico. Aquele se faz na junção dos sons com as imagens, que é formado na recepção do público com a totalidade da obra, onde encontramos os campos diegético e extradiegético. Este, o espaço acústico, é o espaço por onde o som transita depois de ser transduzido de energia elétrica para energia acústica. |
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Bibliografia | CARDEW, Cornelius. Towards an Ethic of Improvisation. In: CARDEW, C. Treatise Handbook, London: Edition Peters, 1971. Disponível em: . Acesso em: 03 mar. 2018. |