ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Tropical Underground: A noção de Trópico em filmes-manifestos |
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Autor | Ivana Bentes |
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Resumo Expandido | Os Trópicos são um território simultaneamente real, imaginário, simbólico, extremamente produtivo, mas também problemático e que se tornou objeto da produção de discursos que vão desde a as doenças tropicais até o movimento tropicalista, passando pelo cinema marginal ou underground que constituiu um tropicalismo pelo avesso, muito mais virulento e menos solar. Como poderíamos descrever e conceituar esse “tropical underground” a partir de filmes-manifestos e teorias vindas dos próprios cineastas? O cinema marginal seria esse “lado B” do tropicalismo musical? Uma vertente “marginália” que na música e na cultura foi encarnada por Torquato Neto, Capinan, Tom Zé, Rogério Duarte, nomes cuja trajetória e atitude mais agressiva e errática se aproximam da atitude marginal/underground/experimental do cinema e das teorias de Rogério Sganzerla, José Agripino de Paula, Júlio Bressane, dos trópicos pelo avesso nos anti-documentários de Arthur Omar. A idéia de um multitropicalismo com diferentes tendências, entre elas essa aproximação com o “marginal” (poesia marginal, cinema marginal) nos parece produtiva na análise de alguns filmes desse período, de difícil catalogação. Hitler do Terceiro Mundo, de José Agripino de Paula (1968), Meteorango Kid, o Herói Intergalático (1968), de André Luis de Oliveira, Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, Família do Barulho, de Júlio Bressane, 1970, Capitão Bandeira contra Dr. Moura Brasil, de Antonio Calmon, (1971), Câncer, de Glauber Rocha, 1968/1972, Triste Trópico (1974), de Arthur Omar, momentos de radicalizações de procedimentos estéticos e teóricos. A proposta é apresentar a teoria de diferentes cineastas/filmes sobre a noção de trópico e articular com um pensamento brasileiro moderno e contemporâneo, no qual o cinema sai do gueto para constituir um pensamento potente e crítico, mesmo que distópico, acerca do Brasil. Podemos falar de filme-síntese dessa relação, marginália e marginal, que transforma o método carnavalesco e a tropicologia em uma teoria da montagem, como o Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, de 1968. O Bandido da Luz Vermelha faz o inventário de procedimentos da antropofagia, da chanchada, do Cinema Novo, do tropicalismo e do Cinema Marginal. Um “filme de cinema”, como se anuncia nos letreiros iniciais ou um filme-demonstrativo de processos cinematográficos inventivos. No seu manifesto “Cinema Fora da Lei”, Sganzerla define o filme como “um far-west sobre o III Mundo. Vamos analisar a noção de trópico nesse filme e suas filiações e bifurcações. O Pop-apocalíptico e Objetos Não Identificados. Nessa mesma linha, de uma ruptura e inflexão à quente, nos anos 60 e 70, apontamos outros filmes radicais, filmes que mantém, até hoje, uma estranheza desconcertante. Filmes pouco vistos, mas que subsistem como uma estética potencial, como filmes-manifestos: Hitler do Terceiro Mundo (1968), de José Agripino de Paula, Meteorango Kid, o herói intergalático (1968), de André Luiz Oliveira, Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, A Família do Barulho (1970) de Júlio Bressane, A Margem, de Ozualdo Candeias, Bang Bang, de Andrea Tonacci, os primeiros filmes de Carlos Reichenbach, alguns filmes de José Mojica Marins, Triste Trópico (1974), de Arthur Omar, filmes que dialogam mas também ultrapassam o tropicalismo solar. Se o tropicalismo musical teve uma repercussão imediata, o percurso do Cinema Marginal e experimental dos anos 60 e 70, é subterrâneo, reprimido, rasurado, tornado invisível até hoje. Um conjunto de filmes, entretanto, capaz de criar uma linha potencial dentro do cinema e da cultura brasileira, uma dobra no tropicalismo, com temas e procedimentos comuns, mas radicalizando e valorando o estranho, a violência, uma brasilidade agressiva, fragmentada, estilhaçada, caótica, de “segunda mão”, mistura desequilibrada de celebração e autodepreciação que os torna ainda mais contemporâneos. |
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Bibliografia | BENTES, Ivana. Multitropicalismo, Cine-sensação e Dispositivos Teóricos. In: Carlos Basualdo (org) São Paulo: Editora Cosac Naify, 2007. |