ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Contra esteriótipos: Cinema negro no Brasil e nos Estados Unidos |
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Autor | Aida Rodrigues Feitosa |
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Resumo Expandido | Na história da cinematografia do Brasil e dos Estados Unidos, grande parte das imagens das pessoas negras tem se alternando entre a inexistência ou a representação estereotipada. Como consequência, essa apresentação dificulta a formação de um imaginário audiovisual da população negra com personagens múltiplas e complexas, o que contribui para a manutenção, ou até mesmo, a intensificação de práticas sociais racistas. Entendendo que o imaginário é uma construção social, a exposição sistemática dos sujeitos a imagens limitadoras de pessoas negras cria ideias e padrões estéticos em que o belo, o bom ou o sublime se ligam a pessoas brancas. As pessoas negras se tornam assim feias, más, sem caráter ou espírito no imaginário das pessoas que assistem a essas imagens, sejam os espectadores brancos ou negros. Iniciativas individuais e movimentos coletivos de cineastas têm feito esforços de produção de outras imagens e sons propondo um cinema negro, em que seja destacada a centralidade da pessoa negra tanto em frente como atrás das câmeras. Num primeiro momento, o cinema negro surge como uma reação à sub-representação das personagens negras, do cinema mudo às produções dos grandes estúdios de Hollywood, nos Estados Unidos, e da Vera Cruz, no Brasil, seguindo, até os dias atuais, em grandes produções de estúdios e também naquelas consideradas independentes. Os estereótipos, ou seja, imagens de personagens planos e subalternizados, das imagens negras são encontrados tanto nos Estados Unidos como no cinema brasileiro. Preto Velho, Mãe Preta, Mártir, Negro de Alma Branca, Nobre Selvagem, Negro Revoltado, Negão, Malandro, Favelado, Crioulo Doido, Mulata Boazuda, Musa, Afro-Baiano são as imagens apresentadas por João Carlos Rodrigues em seu livro O negro brasileiro e o cinema (2011). No livro Toms, Coons, Mulattoes, Mammies and Bucks: An Interpretative History of Blacks in Films, Bogle (2016) nomeia, logo no título, os estereótipos negros no cinema norteamericano. Podemos fazer um comparativo das imagens apresentados por Bogle (2016) com as de Rodrigues: Tom ou Tio Tom (Tom / Uncle Tom) poderia ser o Preto Velho, velho negro com característica servil e pacífica; Coon seria o Crioulo Doido, um palhaço ou bufão que entretém a plateia com seus trejeitos engraçados e infantis; Mullatoes seriam as Mulatas, que,apesar do sucesso sexual, não encontram pertencimento familiar; Mammies se aproximam da Mãe Preta, uma velha serviçal que cuida de todos na casa dos senhores, e também se aproxima do Crioulo Doido por suas esquetes cômicas; e, Bucks seriam os negros revoltados que lideram lutas pela liberdade e pelos direitos civis. O cinema, mesmo com seu aparato tecnológico, é fenômeno humano e, como tal, está imbricado nos arranjos da vida social. Por isso, não há espanto em perceber que uma sociedade racista gera um cinema majoritariamente racista. Brasil e Estados Unidos experimentaram práticas coloniais que moldaram suas sociedades com consequências para as relações entre europeus e africanos que se mantêm até os dias de hoje. É o fazer cinema pelas próprias pessoas negras que outras imagens e sons são criadas e possibilita desafiar os esteriótipos e construir um imaginário e uma estética múltipla e livre para a população negra. |
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Bibliografia | BOGLE, Donald. Toms, Coons, Mulattoes, Mammies and Bucks: An Interpretative History |