ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Recepção de Garotas do ABC - entre a ousadia e a apelação |
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Autor | Lorena Duarte de Oliveira |
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Resumo Expandido | A proposta deste trabalho é a análise da recepção do longa-metragem Garotas do ABC – Aurélia Schwarzenêga (2003), de Carlos Reichenbach. Com estreia na 36ª edição do Festival de Brasília - concorrendo com Filme de Amor (Júlio Bressane) e Signo do Caos (Rogério Sganzerla), entre outros - Garotas do ABC conta as histórias de um grupo de operárias tecelãs do ABC paulista. Aurélia, a protagonista, é uma jovem negra apaixonada por soul music e por galãs fortes do cinema, seu ídolo máximo é Arnold Schwarzenegger. Seu namorado Fábio é um fisiculturista branco ligado a um grupo neonazista, que pratica atos de violência contra negros e nordestinos, o que implica um conflito inusitado à trama. Este filme é um dos frutos do projeto ABC Clube Democrático, que previa uma série de seis longas sobre a vida de operárias têxteis da região do ABC. O projeto nasceu da vontade de Carlão de dar continuidade ao seu mergulho no universo das mulheres proletárias da periferia paulistana, incursão que começou com Lilian M., Relatório Confidencial (1974), aprofundou-se em Amor, Palavra Prostituta (1981) e ganhou novos contornos, com multiplicidade de histórias e protagonistas, em Anjos do Arrabalde (1986). À época do lançamento de Garotas do ABC, a recepção dos críticos se dividiu entre os que aclamaram a ousadia de Carlão - por usar de cinema narrativo para tocar feridas de um Brasil que ainda não saldou sua dívida com o passado escravocrata - e aqueles que não perdoaram o que seria um mau jeito para direção de atores e escrita de diálogos. Vejamos dois trechos de críticos do jornal Estado de São Paulo, à época do lançamento nacional do filme: “Existimos numa espécie de paradoxo em forma de país em que o neonazismo pode florescer nas regiões mais industrializadas. Mas nem essa constatação seria suficiente para fazer de Garotas do ABC um bom filme, caso Carlão não incorporasse o paradoxo em sua linguagem. [...] O que nasce de fato dessa contradição do amor entre Aurélia e Fábio é um retrato amoroso da classe operária brasileira [...] Carlão incorpora um certo ethos dessa classe sem folclorizá-la.” (Luiz Zanin Oricchio, in: O ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno 2. 27 de agosto de 2004. “Morte de sem-teto atualiza Garotas do ABC”) “O filme volta e meia apela e usa o sexo e a música para mascarar os defeitos de seu (inconsistente) mosaico de paradoxos sobre o Brasil atual. Mas o pior é uma certa frase usada como fecho - “Todo brasileiro é crioulo”. É como se Reichenbach não acreditasse na diversidade e pregasse o entendimento como inevitável por causa do que nos iguala não pelo respeito à diferença” (Luís Carlos Merten, in: O ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno 2. 27 de agosto de 2004. “Morte de sem-teto atualiza Garotas do ABC”) De um modo ou de outro, é notável como algumas questões sociais são pungentes e atuais no filme. Fruto de intensa observação de campo durante o período de escrita do roteiro, a escolha do diretor por tratar do crescimento de grupos neonazistas no ABC foi precisa no que se refere à atualidade do debate. Ainda citando Zanin: “Cleiton, de 20 anos, morreu. Flávio, de 16, escapou mas perdeu um braço. Os dois rapazes, dia 7, foram obrigados por três skinheads a saltar de um trem em movimento em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. O fato policial da triste atualidade ao longa-metragem Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach, que tem como um dos seus temas as atividades de um grupo de neonazistas. [...] Não por acaso, o movimento neonazista nasce justamente onde o operariado é mais desenvolvido. Trata-se daquilo que se poderia chamar de formação reativa: é justamente onde mais se avança que a reação contrária brota com força, num paradoxo apenas aparente.” (Luiz Zanin Oricchio, in: O ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno 2. 18 de dezembro de 2003. “Crimes de skinheads atualizam ‘Garotas do ABC’) Cremos que o tempo decorrido desde o lançamento do filme nos dá um distanciamento salutar para analisar sua recepção e sua contribuição para o cinema brasileiro. |
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Bibliografia | CAETANO, D. “A cinefilia canibal dos filmes de Carlos Reichenbach”. In: Revista Filme Cultura nº 53. RJ, 2011. |