ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Cinemações - entre o cinema e o espaço |
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Autor | Gustavo Jardim |
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Resumo Expandido | Este trabalho parte de um debate filosófico sobre a natureza do tempo forjada nos processos cinematográficos e como ela nos oferece uma forma de tomada de contato com o esforço criador, com o princípio vivo da consciência. Remete-se aos trabalhos de Henri Bergson na construção de um panorama de crítica do pensamento científico que nos dão base para os conceitos de multiplicidade, do movente e do devir em geral. Toma-se por consequência a filosofia desenvolvida a partir do cinema por Gilles Deleuze com uma noção da diferença voltada para a força das singularidades operando na construção e desconstrução de territórios. Incorpora as leituras dos contemporâneos David Rodowick e David Lapoujade para compor as engrenagens desta maquinaria conceitual, incluindo a noção de fabulação e da distribuição de uma terra para o pensamento, a partir de procedimentos do cinema experimental e da videoarte. Tratamos de procurar construir agenciamentos: ao pensar a apropriação cinematográfica do lugar onde moramos visamos atingir a própria vida como potência do fora, esse algo que seja capaz de remodelar o real a partir do acontecimento. O precedente de pesquisa entre a teoria e a prática enunciada se deu na Oficina Plano Aberto que reuniu as linguagens do funk, literatura e cinema em um trabalho realizado com jovens das ocupações de Dandara, Vitória e Izidoro, em Belo Horizonte. Foi ali que aprendemos com as formas de narrar dos jovens, entre língua, corpo e lugar, como formas de resistir à imposição do tempo e do espaço. Os filmes “Céu dos Românticos”, “Cabeça a Mil” e “Fala Comigo” nos conduzem a experiências nas quais cotidiano implicado pela câmera convoca o corpo à elaboração de uma narrativa. Os filmes realizados lançam questões sobre a narração de si em uma fatia de acontecimentos extraída pela presença da câmera: criar o fora ao ver de dentro da casa, apaixonar-se em cena ou fugir de casa. Deleuze vai dizer: "Dê-me, portanto, um corpo: esta é a fórmula da reversão filosófica". "O corpo não é mais o obstáculo que separa o pensamento de si mesmo, aquilo que se deve superar para se conseguir pensar. É, ao contrário, o corpo, aquilo em que o pensamento mergulha ou deve mergulhar para atingir a única coisa que importa: a vida". O que importa ao pensamento pensar é o corpo. E o tempo faz parte do corpo. O acontecimento é o corpo pensado como instante pleno, para além de qualquer narrativa. Para Lacan, o acontecimento é um presente instantâneo. As manifestações sintomáticas e as atuações adolescentes podem ser vistas como acontecimento de corpo e se devem a uma ruptura com o sentido. Nossa proposta é examinar uma inserção mais direta destes conceitos em uma prática cinematográfica onde o corpo se associa ao espaço ocupado, ativa sua potência de desterritorialização, provoca sua tendência de atualizar-se como uma contra parte do real em filme, que faça sentido na construção de novas dimensões de sua multiplicidade, que aumente seu território. O corpo atua neste caso como produtor de espaços. A intervenção como possível redefinidor de uma lógica de habitação para a imagem. A pesquisa envolve a apreciação da metodologia da Cinemateca Francesa para lidar com a questão de cinema: “Lugares, Histórias” na qual podemos aprender caminhos e disrupturas para se encontrar o espaço entre a memória e o lugar. Alain Bergala propõe uma distinção que problematiza a relação entre o espaço e o lugar e aponta para desafios de se descobrir novas temporalidades a partir da matéria em que se habita. “O espaço é uma noção objetiva e homogênea. As características de um espaço revelam geometria e são as mesmas para todos. Um lugar, pelo contrário, é feito de lembranças, de afetos, diferentes para cada um, de ressonâncias pessoais. Um lugar existe só para um individuo, ou uma pequena comunidade, que tem uma experiência direta, e quase sempre afetiva. O lugar é o que conecta o real, a imaginação e a memória. Aquilo que constitui a essência própria do cinema." |
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Bibliografia | BERGALA, Alain. L'hypothèse cinéma. Paris: Cahiers du cinéma, 2006. |