ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Filmes de conversação: uma proposta |
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Autor | Alexandre Rafael Garcia |
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Resumo Expandido | Esta comunicação apresenta a hipótese de “filmes de conversação”. São filmes que possuem características comuns, em termos estéticos, narrativos e de produção, mas não possuem um “manifesto” ou uma definição clara já publicada. A crença aqui defendida é que Éric Rohmer é o maior representante do que podemos chamar de “filmes de conversação”: um tipo de filme ficcional sobre situações banais, produzido com equipe técnica reduzida, baixo orçamento e com total atenção dramática no embate verbal entre personagens. Nestas obras, a ação se dá pelo ato da conversa, e não necessariamente por acontecimentos externos e/ou provações, como é de costume na dramaturgia clássica (geralmente, um personagem que precisa lutar contra forças externas maiores). Do começo da década de 1960 a 2007, Rohmer produziu filmes que investiram fortemente no potencial das conversas; não no sentido de contar uma história exclusivamente com palavras, mas no gesto de valorizar e investigar as minúcias da fala, da eloquência, da pronúncia, do gaguejar, do silêncio e das reticências por meio do cinema. Rohmer não ignorava a tradição do teatro e da literatura, que trabalham com a fala e a ficção há centenas de anos a mais que o cinema. Ele sempre se confessou herdeiro direto das letras, trabalhando a partir dessas referências e trazendo para seus filmes a necessidade de uma linha narrativa (o roteiro) rigorosamente estruturada, dedicando seus esforços à escrita tanto quanto à direção cinematográfica (a encenação). “[Um filme] ter muitos diálogos não o faz “literário” ou “teatral”. Diálogo de cinema é completamente diferente do diálogo em uma peça. É muito específico do cinema” (ROHMER, 2006). A sua originalidade está em investigar o aparente paradoxo entre o que os personagens dizem (linguagem oral) e o que eles pensam e fazem. Uma das pedras fundamentais para este tipo de filme é “Viagem à Itália” (1954), de Roberto Rossellini. A obra apresenta um casal inglês que passa alguns dias no sul da Itália e em meio às diferenças culturais enfrenta uma crise conjugal. A questão da linguagem dos personagens se faz presente, no contraste entre o inglês e o italiano, mas também no que é dito e no que é pretendido entre o próprio casal. As motivações para o casal estar na Itália são secundárias; não há grandes fatos nem reviravoltas narrativas; centro de força do filme é o embate conjugal que se evidencia, cristalizados pelas conversas que os personagens têm. O ápice da popularidade deste tipo de filme é a trilogia de Richard Linklater: “Antes do amanhecer” (1995), “Antes do pôr do sol” (2004) e “Antes da meia-noite” (2013). As obras apresentam um casal, que discute sobre sua relação (quase em tempo real) em três décadas diferentes. Durante os filmes, conhecemos e nos comovemos com os personagens pelas coisas que eles falam que vivem e viveram, e não necessariamente pelo que vemos eles viver. Este é um dos encantos neste tipo de filme. Talvez o maior representante hoje seja Hong Sang-Soo, diretor da Coréia da Sul, que, desde 1996, produz sistematicamente filmes muito próximos às características consolidadas por Rohmer. Esta comunicação serve como questionamento à própria hipótese dos “filmes de conversação”. O objetivo deste projeto é criar uma definição e identificar uma genealogia para tais obras, identificado suas origens e seus desdobramentos, da Era de Ouro de Hollywood à contemporaneidade, passando pelos “novos cinemas” no fim da década de 1950. Para tanto, enumera-se características comuns a estas obras: 1, os fatos narrativos são mundanos. 2, a ação majoritária do filme é a conversa entre personagens. 3, é uma obra ficcional. 4, o roteiro é original (não adaptado da literatura ou do teatro, por exemplo). 5, possui baixo orçamento. A crença é que as características estéticas, narrativas e de produção estão unidas, por motivações deliberadas, e consolidam este tipo específico de obra, que podemos chamar de “filmes de conversação”. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A Teoria dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004a. |