ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Para além do ingresso: ida ao cinema e a memorabilia |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Coautor | Talitha Gomes Ferraz |
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Resumo Expandido | Fãs de musicais da Broadway colecionam Playbills, admiradores de música clássica guardam os programas dos concertos a que assistiram e até mesmo mochileiros acumulam entradas de museu, canhotos de passagens, cartões de restaurantes e outros artefatos das experiências que viveram. Não importa se alguém é apaixonado por uma série de TV específica, por uma banda, gênero musical ou mesmo um tipo de produção cultural, em todos esses casos, podemos considerá-lo um fã, em um sentido mais amplo. Assim como alguém pode estabelecer esse tipo relação com um único filme, pode também se sentir dessa forma com o cinema, tal como propõe, em linhas gerais, a noção de cinefilia. Nesse caso, o equivalente aos artefatos citados acima, poderiam ser os ingressos dos filmes assistidos, memorabilia da experiência do filme e registro da presença em um momento que não pode ser repetido e o qual não se deseja esquecer. Para Janet Staiger (2005a), essa relação que o fã estabelece com o que admira se estende para o seu dia-a-dia. Fãs reúnem e colecionam artefatos e os incorporam ao seu cotidiano e espaço físico, tornando-os parte do mundo material em que vivem. John Fiske (1992), que aplica o conceito de capital cultural, criado por Pierre Bourdieu (2008), na distinção de fãs e na maneira como eles se relacionam com seus objetos de fascínio, defende, no entanto, que a relação dos fãs com o acúmulo de capital é bastante complexa e, algumas vezes, contraditória. Para o autor, uma das formas de capital cultural do fã tem relação com o nível de conhecimento sobre determinado assunto. O acúmulo de capital cultural funciona da mesma forma quando se trata de colecionar artigos materiais, o que torna os fãs, assim como outros grupos de consumidores, ávidos colecionadores. Neste ponto, os capitais cultural e econômico se encontram. Ao adquirir artefatos materiais, o fã aumenta seu poder e se aproxima do objeto que admira. A indústria percebeu isso e passou a produzir meios de dar ao fã acesso a informações e produtos relacionados àquilo que amam. Diante desta relação entre as noções de fã e colecionismo, este trabalho tem como foco as práticas de guarda de materialidades conectadas a experiências de ida a cinemas. À luz de teorias sobre memória e memorabilia, nostalgia e cultura de fãs, investigamos como que algumas transformações ocorridas no mercado cinematográfico afetam a relação das pessoas com artefatos vinculados à experiência de ida ao cinema. Nossa hipótese é de que tais objetos adquirem hoje novos funcionalidades e significados em vista da iminência ou da já completa desaparição de alguns elementos antes muito perenes e visíveis como, por exemplo, as próprias salas de cinema e os ingressos das sessões (hoje, totalmente digitalizados e armazenados em celulares ou produzidos com um tipo de papel altamente perecível). Em torno disso, um mercado ávido, com estratégias de marketing bem precisas, encontra chances de rentabilidade. É neste momento que podemos falar na ideia de “comodificação da nostalgia” (Jeziński e Wojtkowski, 2016). Esta expressão percebe a nostalgia como qualquer outro produto das manifestações mercadológicas contemporâneas, uma ferramenta a serviço da venda e da propaganda, que é usada para a gestão de serviços ou a geração de demandas de mercado. É em vista dessa noção que também pensamos as respostas do mercado cinematográfico às necessidades e desejos de guarda de artefatos por parte dos fãs das práticas de ida ao cinema. |
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Bibliografia | AVEYARD, K.; MORAN, A.. Watching films: new perspectives on movie-going, exhibition and reception. Chicago: Intellect, 2013. |