ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Descolonização do olhar em Angola |
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Autor | LEANDRO SANTOS BULHÕES DE JESUS |
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Resumo Expandido | As independências dos territórios e dos povos africanos aconteceram na virada da primeira para a segunda metade do século XX, numa época em que a produção de imagens cinematográficas no mundo era apropriada por outros sujeitos e outros lugares, para além dos hegemônicos. Assim, fizeram parte das lutas pelas soberanias, bem como dos anos posteriores às independências, a realização de filmes por grupos engajados nas libertações de seus povos. Em Angola, a feitura de imagens em movimento tem como marco as investidas dos portugueses no período colonial, seguida por uma pequena produção no período das guerras anticoloniais (1961-1975) e outra específica do contexto da Angola independente. Os primeiros anos que procedem à independência de Angola são constituídos por uma grande convulsão política e de intensa mobilização popular, por essa razão, os cineastas das primeiras produções cinematográficas em Angola estão bastante interessados em registrar e acompanhar tanto as atividades político-militares quanto o clima de festas vivido pelo povo naquela fase de transição. Por dentro dessas demandas é possível também identificar os outros direcionamentos de sentidos de pertença e formas diferenciadas de elaborações narrativas que poderiam implicar em reconfigurações das memórias e das identidades que muito informam sobre os projetos de sociedade independente que estavam em marcha. Se memorização é a capacidade humana de reter elementos do passado, assim como esquecê-los, fazer cinema pode ser uma forma de encaminhamento imagético do movimento da história, no presente. A experiência cinematográfica realiza um elo significante entre o sujeito e a projeção; indivíduo e obra são peças paralelas que se interrelacionam. Os operadores da câmera-olho podem recortar e montar pedaços de mundo na atividade infinita de construção de sentidos e formatação de experiências, como há muito tempo já faz a tinta e a pena sob o papel; as cores nas paredes e telas. No caso específico da produção cinematográfica em Angola, uma vez iniciada a luta de libertação e conquistada a independência, um tipo de cinema revolucionário não tratou apenas das representações da luta anticolonial ou dos chamados aspectos nacionalistas, havia também uma tentativa de forjar outros códigos culturais de pertença e maneiras de ver o outro e a si mesmo. O estudo das ressignificações, apropriações e construções de outras referências em Angola transitou nas relações entre poder, memória, oralidade, narrativa e imagens. Isto é, as complexas relações no manejo dos significados, sentidos, filiações e pertenças. A luta pela libertação e os mecanismos de elaboração dos outros códigos de pertenças à projetada nação angolana independente instauraram uma legibilidade discursiva assentada na promoção do reconhecimento dos homens e das mulheres negras; ajudaram a quebrar a lógica teleológica de uma história universalista, questionando sua linearidade historicista, ressignificaram a ideia de civilização, inclusive por meio da apropriação consciente de elementos de outras culturas, dentro de um projeto da universalização das coisas humanas. Numa perspectiva fanoniana, os cineastas angolanos, com suas câmeras, ajudaram a descolonizar, descortinando um panorama cada vez mais humanizado, diante da busca e tentativas de elaboração de uma outra gramática visual, inclusive decorrente dos processos de apropriação de imagens, temas e abordagens que um dia foram daqueles que tentaram sequestrar a dignidade dos homens e mulheres negras. Em contextos de violências e clausuras coloniais (FANON); de genocídios de corpos, de epistemes (CÉSAIRE, 1978) e de cosmosensações (OYERUMI, 2003), como as experiências de produção de cinema em Angola nos informam sobre estratégias de descolonização do olhar? |
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Bibliografia | BULHÕES, Leandro S. Imagens de Angola, imagens da memória: cinema, marcas e descobertas (tempos das lutas anticoloniais, tempos das independências) tese defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília em 2013. |