ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Possibilidades de interação: o lugar de fala em Crazy Ex-Girlfriend |
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Autor | ELEONORA MENEZES DEL BIANCHI |
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Resumo Expandido | Em 1991, Maureen Murdock, acadêmica e terapeuta americana, escreve “A Jornada da Heroína” em contraponto ao “Monomito” ou “Jornada do Herói” apresentado no livro o “Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell, obra até hoje lida internacionalmente na construção de arcos de personagens para roteiros audiovisuais e que se baseia em teorias psicanalíticas para construir o percurso que uma personagem comum deve percorrer (bem como as companhias que deve encontrar) para alcançar o arquétipo do herói, sendo diferenciada e venerada por outros. A proposta de Murdock é a de que o fim da “Jornada do Herói” é somente metade da “Jornada da Heroína”, para quem ser exaltada por seus feitos em uma sociedade heteropatriarcal não irá trazer satisfação. Murdock propõe que a heroína reúna os aprendizados da jornada masculina com sua força interior feminina ainda por ser descoberta, gerando uma nova perspectiva e identidade. Nesse sentido, a proposta de Murdock se relaciona com as comunidades fundadas por feministas culturais nos EUA no começo da década de 70, espaço criado, gerido e vivenciado exclusivamente por mulheres unidas pelo laço comum de serem do sexo feminino e não fazerem parte do grupo masculino/opressor. A base para o feminismo cultural surgiu do movimento radical que se expandiu durante meados da década de 60, em conjunto com diversos outros movimentos sociais que ganhavam força, porém foi muito criticado pelo mesmo, por trazer uma re-essencialização da imagem da mulher. Se há uma identificação com a imagem feminina e um “retorno a deusa” isso significaria que existem valores femininos e arquétipos inatos do que é ser mulher. Enquanto o feminismo cultural se reaproximação da diferenciação biológica dos sexos, o feminismo radical foca nas semelhanças entre os dois, no ativismo em busca da conscientização e no foco da importância do papel que a mulher foi levada a desempenhar dentro de casa durante a História. Outra questão é que a partir de relatos de mulheres que viveram nessas comunidades como o de Kathy Rudy, observamos que o principal ponto de desconstrução e desmembramento desses espaços foi a percepção de que somente ser mulher não bastava - naquele momento- para uni-las como grupo. Haviam outras diferenças, como cor ou escolha sexual, diferenças que eram colocadas de forma secundária, mas que a partir do momento que também ganharam voz dissiparam a certeza de que a opressão vivia fora daquele ambiente. Proponho a partir da recuperação de escritoras e ativista como Audre Lorde, Gloria Anzaldua, Valerie Solanas, Ti-Grace Atkison e Joanna Russ bem como Judith Butler, Tereza de Lauretis, Angela Davies, e Laura Mulvey encontrar como essas críticas sociais e propostas efetivas de mudanças podem ser tratadas com imagens, como uma forma de idealizar, visualizar (e porque não vivenciar, a partir da incorporação subjetiva) como poderiam ser na prática, em um ambiente seguro (no sentido de não provocar - inicialmente - mudanças de forma concreta) proporcionado pelo meio audiovisual. Proponho esse debate a partir da série americana Crazy Ex-Girlfriend co-criada por Rachel Bloom (também produtora e protagonista no papel de Rebecca Bunch): mulher, branca, judia, de família rica, graduada na Universidade de Nova York. Assim como sua idealizadora, Rebecca tem um lugar de fala privilegiado, do qual abre mão parcialmente ao longo da série, dessa forma influenciando outras pessoas ao seu redor a também repensar seus posicionamentos e ações. Observo que quando digo lugar de fala parto do livro de Djamila Ribeiro, que traz essa conceituação de forma bastante acessível em seu livro lançado em 2017. O que Ribeiro propõe em seu texto é que todos falamos levando em consideração interesses e problematizações que nos foram apresentados ao longo de nossos percursos e com os quais, naturalmente, nos identificamos mais. Nenhum ponto de vista é neutro. |
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Bibliografia | Crow Barbara. (2000). Radical feminism: a documentary reader. New York, New York University Press. |