ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | O clássico e a forma panorama ante a compressão espaço-tempo |
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Autor | Denise Costa Lopes |
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Resumo Expandido | A “descoberta” da perspectiva artificialis e a “invenção” da paisagem no Renascimento fundaram, de alguma forma, um novo modo de ver no Ocidente. O olhar deveria se esparramar pela composição, varrer toda superfície e se perder por regiões criadas ilusoriamente. Essa engenharia de capturar e enganar os sentidos, absorvendo para dentro do quadro seu interlocutor de corpo inteiro e solicitando dele total cumplicidade na edificação da obra, transformava cada espectador em coautores de poderosas e densas narrativas. O efeito era imediato, o deslumbramento certo e a comunicação da mensagem, seja ela qual fosse, profícua. É no mínimo perturbador pensar que hoje, depois de tantas revoluções e em meio a tantas supervias, hipervelocidades, atomizações e condensações espaciais e temporais, a construção artística de maneira geral não só se baseie, de uma certa forma, ainda em princípios como esses para repetidamente e sempre tentar refazer o caminho do sensível, do essencial e do transformador, como foque cada vez mais suas lentes nessas construções passadas, definidoras, em alguma medida, dessas novas concepções, que ora ajudaram a fundar, ora refletiram, mudanças paradigmáticas na percepção e cognição humana entre os séculos XV e XVI. Na imagem em movimento, continuum e desejo da representação visual desde as pinturas nas cavernas do Paleolítico, não é diferente. Quando dissociado da consciência desses recursos, que refazem uma habilidade natural humana, e do fecundo diálogo das possibilidades técnicas com as outras artes visuais, o cinema parece padecer de sua origem, da memória de ousadas experimentações e da capacidade de lançar mão e de resgatar os mais simples artifícios utilizados desde os primórdios de todas as grandes tentativas de avanço na fabricação de imagens. A primazia desenfreada da imagem em nossa era parece, então nos colocar nesse lugar de transição e de questionamento do poder, da potência e da eficácia da imagem. Onde a imagem em movimento, fruto sempre de um duplo, de uma ressurreição, reaparição fantasmagórica, ganha cada dia mais e mais destaque a partir de inusitadas soluções que parecem perseguir um desejo de reconstrução de alguma ancoragem possível diante da eloquente compressão espaço-temporal das tecnologias da informação que nos abarcam. Teóricos contemporâneos, como Jonathan Crary, Andreas Huyssen e muitos outros, apontam hoje para a necessidade de criação de espaços e tempos mais dilatados, afeitos à fruição e à subjetivação, capazes de refundar, ou de, quem sabe, trazer de volta, em meio a uma fragmentação do sujeito, um sentimento de pertencimento por meio do resgate de um tipo de percepção que privilegia os processos da memória e da experiência. A onividência da forma panorama, que nos coloca centrados e abraçados por horizontes longínquos, vastos e infinitos, mas que, paradoxalmente, nos encarcera, parece ser a mais perfeita tradução para esse tipo de carência. Os cineastas, artistas plásticos, diretores de óperas, VJs e videoartistas Peter Greenaway e Lech Majewski são alguns dos muitos artistas de hoje que se debruçam prioritariamente sobre o passado, recuperando suas formas ou as recriando pela imagem em movimento. Entre muitos trabalhos dos dois, destacamos as recriações em "filme-instalação" que Greenaway fez da obra monumental de Paolo Veronese (1528-88), As bodas em Canã (1562-63), na Bienal de Veneza de 2009, tal como fazia o Diorama de Luis-Jacques-Mandé Daguerre (1787-1851), em 1822; e que Majewski fez com Cristo carregando a cruz (1654), de Pieter Bruegel (1525-69), na Bienal de Veneza de 2011, na VI Mostra 3M de Arte Digital, em 2015 e na Fundição Progresso, além do longa O moinho e a cruz (2011). Expoentes do Renascimento Italiano e dos Países Baixos, ambos pintores parecem ter muito a ensinar à fruição e possibilidade de subjetivação da imagem em movimento hoje. Retornos propostos por esses artistas contemporâneos talvez como respostas ao empobrecimento da experiência atual |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O olho interminável. São Paulo: Cosac Naify, 2004. |