ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Caminhos documentais em espaços amazônicos |
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Autor | Uriel Nascimento Santos Pinho |
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Resumo Expandido | Pensar as imagens da Amazônia brasileira, em um reflexo inicial, é se deparar com repertórios culturais sedimentados que em linhas gerais circunscrevem a região como fronteira a ser conquistada, santuário natural a ser preservado ou palco de conflitos motivados por modelos de desenvolvimento que violentam vidas e cosmologias locais. Historicamente, filmes documentários produzidos na e sobre a região colocam em movimento imagens e discursos que orbitam esses repertórios, seja para questionar, avaliar ou fazer apologia ao chamado desenvolvimento (BIZARRIA, 2008). O espaço (MASSEY, 2008) e sua tessitura frente a desejos de progresso ou vida se revela, então, categoria-chave para pensar as relações sociais que constituem a Amazônia em suas múltiplas redes, mergulhadas na espaço-temporalidade de uma natureza sempre em reconstrução. Esta proposta tem o objetivo de apresentar resultados iniciais de um levantamento de documentários em curta metragem de realizadores do estado do Pará, exibidos em mostras e festivais locais entre 2007 e 2017. Em um primeiro momento, interessa-nos uma cartografia de realizadores, fontes de financiamento e arranjos institucionais dessas produções, em um movimento de pesquisa de nível médio (BORDWELL, 2005) que consideramos fundamental para registro de produções circulantes fora do centro-sul do Brasil, e que muitas vezes escapam a modelos profissionais e escolhas estéticas e narrativas hegemônicas, variando muito inclusive no interior de nosso recorte geográfico, o estado do Pará (apesar de terem em comum entre si a indexação como “documentários”). Em um segundo momento, nos interessa esquadrinhar os pertencimentos temáticos dessas produções, de modo a enxerga-las como constelações de onde emergem filmes singulares (seja por condensarem procedimentos adotados em larga escala, seja por suas características disruptivas) que possam ser objeto de análise fílmica, informada necessariamente por elementos contextuais e extra fílmicos – um passo que consideramos necessário tendo em mente as alusões dos documentários à realidade histórica e as relações particulares que se estabelecem, no documentário, entre realizadores e a realidade de onde retiram material para suas produções (SALLES, 2005; COELHO, 2011). Do ponto de vista estético narrativo, nos interessa o repertório de personagens (artistas, ribeirinhos, populações carcerárias, devotos, brincantes de carnaval...) e espaços (o rio, o bar, a cidade, o porto, o arranha-céu, a periferia, a floresta...) postos em movimento por essas produções, frente a um repertório audiovisual e cinematográfico eurocêntrico (SHOHAT, STAM, 2006) e nacionalista sobre a Amazônia. Consideramos que os documentários e a problematização que operam junto aos chamados discursos do real são objeto privilegiado para se analisar construções cinematográficas locais sobre o espaço amazônico, uma periferia que corresponde legalmente a 60% do território brasileiro, em um período de popularização de meios de produção e circulação digitais, apropriados para a produção documental por atores locais tão diversos quanto movimentos sociais, canais públicos, grupos de pesquisa universitários e agências de publicidade – com filmes convergindo para os mesmos festivais locais. |
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Bibliografia | BIZZARIA, Fernanda. A construção das identidades no documentário: os povos amazônicos no cinema. Niterói, RJ: Muiraquitã, 2008. 128 p. |