ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Edgard Navarro e o Corpo do escracho |
|
Autor | Geraldo Blay Roizman |
|
Resumo Expandido | A flexibilização da linguagem possibilitada pela novidade da bitola nos anos 1970. seria a maior característica desses filmes provocadores, estimulados pelo contexto das Jornadas de Cinema na Bahia e O Rei do Cagaço faz parte, como o próprio diretor nomeia, da chamada “tríade freudiana”, junto com Alice no país das mil novilhas, de 1976 e Exposed, de 1978. Essa qualidade provocativa se tornaria mais do que uma peculiaridade, um verdadeiro estilo, a partir de um agudo sentido estético de experimentação. A utilização original da câmera Super-8 como produto de consumo para o lazer doméstico, na mão de artistas e poetas, vai adquirindo olhares mais inquietos sobre a cidade e sua fauna urbana, sobre as locações turísticas, descobrindo aos poucos as potencialidades expressivas da bitola. A questão mais importante, principalmente no caso de Navarro, será epatér la burgeoisie, ou surpreender a expectativa e romper com um comportamento dito respeitável. A questão do corpo, neste sentido, se apresentaria neste momento histórico como eixo fundamental de quebra de padrões no que tange à possibilidade da manutenção da existência do individual, do particular e o superoitismo veio juntar este engajamento ao universo cinematográfico de democratizar o processo artesanal ao nível do faça você mesmo, libertador, portanto, de esquemas de produção num momento do país de explosão da tensão entre forças sociais conservadoras e libertárias vinculadas á contracultura, ao tropicalismo, ao sexo drogas e rock and roll, ao comportamento outsider, hippie, a loucura e a psicodelia. O escracho nas imagens e na locução livre serão utilizados por Navarro de uma forma prosaica, contrastados com imagens de gestos corpóreos subversivos relativos à ordem social e que funcionarão portanto, como destutelamento neste momento repressivo do país sobre ainda sobre égide da ditadura civil-militar. Procederá Navarro de forma surpreendente neste filme, enfim, como uma forma perversa polimorfa escrachada, uma conspurcação lírica e suja de atingir o aparelho repressivo de um país conservador até a medula na sua patológica e falocêntrica retenção anal histórica, através do descobrimento do corpo sublimado da infância na vida adulta, libertando-se, desta forma, ao evacuar o próprio tempo histórico expelido como excremento. |
|
Bibliografia | AGAMBEN, G. O Uso dos Corpos. Homo Sacer, IV, 2. São Paulo: Boitempo, 2017. |