ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Perspectivas do cinema independente brasileiro contemporâneo |
|
Autor | Maria Cristina Couto Melo |
|
Resumo Expandido | A questão do cinema independente não é discutida sistematicamente na historiografia do cinema brasileiro, principalmente no que se refere à suas manifestações contemporâneas, haja vista a presença de um panorama complexo de iniciativas e experiências de indepedentismo cinematográfico apresentadas desde o início da década de 1990. É possível observar uma série de nuances nessa produção não conformada em um todo homogêneo, que aponta para a necessidade de reflexão e discussão a fim de identificar os movimentos implicados em suas definições, aderências e relações. No contexto de 1990 e do vácuo de políticas voltadas para o setor cinematográfico no Brasil, os poucos realizadores ainda em atividade nesse período se declaravam independentes, mantendo uma série de tradicionais questões que abarcam o conceito de independência cinematográfica na historiografia do cinema brasileiro. A criação da Globo Filmes, em 1998, e a entrada definitiva da televisão nos negócios cinematográficos, reconfigura o termo “cinema independente”, que passa a evocar toda a produção brasileira não vinculada à Globo e às empresas estrangeiras por intermédio de contratos de co-produção ou distribuição. O panorama do cinema brasileiro, amplamente baseado nas leis de incentivo a partir de então, passa a sugerir, em tese, uma “independência compulsória” aos cineastas. O período de mudança de gestão federal pública com o início do mandato presidencial de Luís Inácio da Silva representa um salto nas políticas culturais, que passam a apresentar centralidade nos assuntos do governo. Em 2004, surge o anteprojeto de lei que visava a criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), em substituição à Ancine, criada em 2001, procurando ampliar os poderes regulatórios da agência, que atuaria então na regulação de conteúdo das televisões e empresas de telecomunicação além das atividades cinematográficas. Apesar da não viabilização do anteprojeto a proposta representa um marco nas tentativas de diálogo entre a produção independente e a televisão. Nesse momento, abandona-se a noção estrita de produção cinematográfica independente e a ideia de uma produção audiovisual encontra destaque. Os programas DOCTV, Documenta Brasil, Revelando os Brasis, Curta Criança e Curta Animação ampliam o escopo da produção audiovisual independente para além do longa-metragem, esgarçando as fronteiras da independência que passa a se referir a projetos e produções que dentro da historiografia do cinema brasileiro não eram contemplados nas discussões independentistas. No que se refere às leis de incentivo fiscal voltadas para a produção, a possibilidade de co-produção apresentada pelo artigo 3° da Lei do Audiovisual de 1993 e a atuação do Fundo Setorial do Audiovisual a partir de 2007 dá continuidade ao modelo institucionalizado há quase 20 anos, apontando uma necessidade evidente de reflexão a respeito dos modos pelos quais os realizadores atuam no mercado de filmes. A presença massiva de editais a partir de 2006 amplia as possibilidades de produção e aponto uma postura de diversificação dos perfis de realizadores. A presença de coletivos de realização e do “cinema de garagem” apontam para uma tendência que se movimenta em direção contrária à tradição histórica, priorizando a realização e circulação de filmes dentro de uma lógica que se afasta em certa medida do princípio da autoria e/ou rupturas estéticas como fundamentais para o cinema independente, e busca a criação de alternativas ao mercado como estrutura principal de circulação e retorno financeiro. A difusão de estratégias de circulação e exibição de filmes como o Circuito SP Cine e Programa Cinema Perto de Você indicam um movimento de reavaliação da tradição cinematográfica brasileira por parte do Estado – apresentando o ensaio de uma lógica de ciclo de realização que contemplaria os independentes. |
|
Bibliografia | FERNANDES, Marina Rossato. Políticas públicas para o audiovisual: o caso ANCINAV. São Paulo: Alameda, 2016. |