ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A teoria de Eisenstein e a direção de fotografia |
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Autor | TAIS A S NARDI |
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Resumo Expandido | A obra teórica de Sergei Eisenstein é bastante influenciada por seu trabalho como realizador e professor, atividades que lhe permitem uma visão prática do cinema, referente ao processo de produção das obras. Muitos de seus textos se utilizam de análises de seus próprios filmes para explicitar a aplicação de seus conceitos teóricos ligados à importância e à expressividade do cinema, e por isso nos parecem fontes estimulantes para uma discussão sobre a fotografia cinematográfica, atividade que une conceito à prática, a busca de expressividade a escolhas técnicas. Além disso, é possível perceber em seus textos grande preocupação com a construção da imagem, ligada especialmente à composição do plano e à manipulação das linhas e tons, elementos sob responsabilidade do diretor em conjunto com o diretor de fotografia e o diretor de arte. Eisenstein exibe um pensamento imagético e gráfico e por isso propomos aplicar à direção de fotografia suas definições em relação à montagem. A proposta desta apresentação é então utilizar termos e princípios propostos por Eisenstein para analisar a direção de fotografia como ferramenta expressiva dentro da construção de um filme brasileiro contemporâneo. Para isso, vamos partir do conceito de “montagem expandida”. A “montagem expandida” indica uma concepção da obra que engloba tanto a montagem interna a cada plano como a relação entre as “linhas de movimento” que formam o desenrolar do filme. Podemos compreendê-la como um pensamento estruturante sobre a obra, que atravessa todos seus elementos – mise-en-scène, imagem, som e montagem (como colagem de planos) –, e utilizá-la, portanto, como fundamento para analisar os aspectos da construção da imagem, intra e entre planos, que concernem ao trabalho do diretor de fotografia. A importância dada a montagem intra-plano é marcada pela crença na identificação entre forma e conteúdo. Se a forma gera significados ao criar conflito entre os planos, ela é um elemento especialmente importante para a expressão do tema em si e do ponto de vista do autor em relação aos eventos que retrata (EISENSTEIN, 1932). É daqui que pulamos para o conceito de fotografia cinematográfica criativa ou discursiva, emprestando este segundo termo ao modo como muitos autores se referem à montagem de Eisenstein. Através das ideias de Eisenstein buscamos valorizar uma fotografia desassociada da ideia de registro e conectada à ideia de criação de sentido. Essa direção de fotografia discursiva se baseia na construção do plano como justaposição de camadas de significados estabelecidos pelos diversos elementos da imagem – enquadramento, movimentos, tom, cor, linhas, forma, profundidade e ritmo. O diretor de fotografia cria maneiras visuais de contar a história, que formam relações polifônicas com os outros elementos do filme – som, interpretação, figurinos, cenários, montagem, etc. – de modo a fortificar os sentidos da obra. Essas relações são construídas sobretudo pela organização de conflitos ou afinidades entre as imagens do filme. Para Eisenstein, o conflito é o princípio fundamental da montagem. Também é a essência do apelo emocional do filme e de sua construção ideológica por se apoiar no dinamismo característico do ser e da vida. O conflito é a chave da relação produzida pela emenda entre fragmentos, que permite a comparação entre eles; que por sua vez possibilita a percepção de temas e sub-temas e suas sínteses em um novo significado. É a percepção dos conflitos internos à obra que guiará a análise de Quase Memória. Quase Memória é um filme dirigido por Ruy Guerra, com direção de fotografia de Pablo Baião (2016), em que nos é apresentado o encontro de um personagem com ele mesmo em outro momento de sua vida. Carlos Velho e Carlos Jovem repentinamente se encontram no mesmo lugar e passam a discutir como e porque essa união aconteceu. O aparecimento de um embrulho de conteúdo incerto os faz lembrar do pai, um jornalista excêntrico chamado Ernesto. |
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Bibliografia | AUMONT, J. Montage Eisenstein. Paris: Editions Albatros: 1979. |