ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Diálogos Vitais: o ato comunicacional nos filmes de Jan Švankmajer. |
|
Autor | RODRIGO ANDRE DA COSTA GRACA |
|
Resumo Expandido | Este trabalho defende a tese que os filmes do diretor Jan Švankmajer constituem uma contundente reflexão sobre a condição humana a partir da imaginação e do surreal, rompendo as fronteiras narrativas e construindo um meticuloso arcabouço teórico, contundente e inquietante, onde o espectador é compelido a pensar seu estar no mundo. Em outras palavras é perceber elementos teóricos, pictóricos e imagéticos únicos ao seu realizador e presentes em todos seus filmes, e também como esses elementos se conectam, modificam seu significado a partir de experiências anteriores e se complexificam construindo uma reflexão sobre o mundo da vida e sobre relações humanas. Seus filmes pedem uma leitura complexa e articulada e demonstram uma filosofia, uma ideia de mundo, uma forma de compreensão das relações humanas com o seu entorno, tanto com outros seres humanos quanto objetos cotidianos e espaço de vivência. É esta complexidade crítica, criativa, única e subversiva que este trabalho visa destacar. Jan Švankmajer é um artísta surrealista e diretor tcheco que produziu sete filmes longas e mais de 30 curtas em uma carreira. Suas obras mais conhecidas são o longa Alice (Něco z Alenky, 1988) e o curta Dimensões do Diálogo (Možnosti Dialogu, 1982). O objeto de análise deste artigo são seis longa metragens. As relações dialógicas e imagéticas dos filmes podem ser divididas em três ciclos. Na conjunto inicial, da identidade, a primeira categoria é da subjetividade, os filmes Alice e Fausto (Lekce Faust, 1994), são o indivíduo entrando em contato com o inconsciente, uma criança e um adulto, e as consequências deste contato; a segunda é da intersubjetividade, os filmes Conspiradores do Prazer (Spiklenci Slasti, 1996) e O Pequeno Otik (Otesánek, 2000), tratam do inconsciente do ponto de vista comunicacional, da comunalidade do desejo e de seu aspecto dialogal e dos problemas de comunicação quando nos desconectamos de nosso inconsciente; a terceira é da objetividade, o campo onde as intersubjetividades acontecem, os filmes Lunáticos (Šílení, 2005) e Sobrevivendo à Vida (Přežít Svůj Život, 2010), tratam do aspecto social voltado ao inconsciente, ambos invertem a noção de realidade e sonho, um trata o mundo como um grande hospício e outro trata do sonho como mais significativo que o mundo da vida. Nessa categorização existe uma preocupação com o ato enunciativo e tudo que está ligado a este ato, a construção de um heteroglossia de sonhos, imaginação, desejos; a condição dialogal do sonho, imaginação e desejos; a condição transformadora do sonho, imaginação e desejos. O conjunto subsequente, das motivações, dividido em a dúvida do infantil, a certeza do adulto e a inevitabilidade da interação. Nos filmes Alice e O Pequeno Otik, uma criança é a protagonista, em um ela entra em contato com seu inconsciente, no outro é a única a perceber o que está acontecendo em função de sua inocência. Nos filmes Fausto e Sobrevivendo à Vida, o protagonista é desafiado por seu inconsciente, em um ele tenta racionalizar a experiência, no outro ele começa a inverter valores sem perceber que os sonhos e a realidade são facetas da mesma experiência humana. Nos filmes Conspiradores do Prazer e Lunáticos, o inconsciente é o que verdadeiramente nos une, é o código para uma comunicação mais autêntica. A última categoria, distinta das outras seis, trata da questão temática, como os assuntos tratados em alguns filmes são amalgamados em outros posteriores. Os temas tratados nos filmes Alice e Fausto possuem ressonância em O Pequeno Otik. Os temas tratados em Fausto e Conspiradores do Prazer ecoam em Lunáticos. Por fim os temas tratados em Fausto, Conspiradores do Prazer e Lunáticos são importantes para Sobrevivendo à Vida. O relevante são como os temas são retomados em filmes posteriores e se complexificam, traçando uma tessitura argumentativa assertiva, isto é, construindo um argumento que defende uma clara visão de mundo. |
|
Bibliografia | AGAMBEN, G. O que é contemporâneo. In: (Ed.). Nudez. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. |