ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Luta armada e ditadura em dois documentários ultraconservadores |
|
Autor | WALLACE ANDRIOLI GUEDES |
|
Resumo Expandido | Separados por um intervalo de dez anos, os documentários "Reparação" (2009), de Daniel Moreno, e "1964: O Brasil Entre Armas e Livros" (2019), de Filipe Valerim e Lucas Ferrugem, guardam semelhanças na representação que propõem das esquerdas brasileiras, especialmente durante o contexto da ditadura militar (1964-1985). Numa perspectiva ultraconservadora, ambos recorrem à história desse período, olhando com atenção principalmente para a atuação das organizações guerrilheiras que enfrentaram o regime, visando a construir uma espécie de releitura, ou leitura alternativa, de temas consagrados da historiografia. Não à toa o canal no YouTube que produziu "1964: O Brasil Entre Armas e Livros" se chama "Brasil Paralelo". O objetivo é condenar tais organizações e justificar o golpe civil-militar de 1964. Além disso, há nos dois filmes um esforço por conectar esse passado ao presente político do país, marcando uma continuidade direta entre a luta armada de viés marxista das décadas de 1960 e 1970 e os recentes governos do Partido dos Trabalhadores (2003-2016). Dessa forma, "Reparação" e "1964: O Brasil Entre Armas e Livros" instrumentalizam a história em prol de lutas políticas atuais da direita e da extrema-direita brasileiras. A comparação entre eles permite a análise não só dessas reinterpretações históricas, mas também de manifestações de discursos conservadores e ultraconservadores no cinema brasileiro contemporâneo, em consonância com a recente ascensão dessas vertentes políticas ao poder no país. Nesse sentido, é interessante observar até onde cada filme vai nos ataques às esquerdas e na construção de visões heterodoxas da história, em diálogo com seus respectivos contextos de produção: enquanto "Reparação" foi realizado e lançado no auge do lulismo, momento em que posicionamentos de extrema-direita eram absolutamente minoritários no espectro político brasileiro, "1964: O Brasil Entre Armas e Livros" é fruto direto de um tempo de disputa cada vez mais acirrada pela hegemonia discursiva no país e de tentativa de reescrita histórica advinda das mais altas esferas de poder, sobretudo a partir da chegada de Jair Bolsonaro à presidência. Cabe aqui analisar também as estratégias de alcance utilizadas por ambos os filmes, tanto estéticas – como a filiação a um formato tradicional de documentário e a adoção de um tom sensacionalista (sobretudo no caso de "1964: O Brasil Entre Armas e Livros") – quanto de distribuição. Por fim, vale ressaltar que a presente proposta busca se enquadrar no Simpósio Temático "Cinema brasileiro contemporâneo: política, estética, invenção" pela perspectiva de sua vinculação com a política brasileira contemporânea, pelo entendimento de que é importante atentar para um cinema que, apesar de muito pouco (quase nada) inventivo e defensor de teses por vezes abjetas, ajuda a moldar discursos e olhares sobre o passado e o presente do país. |
|
Bibliografia | AB’SÁBER, Tales. Dilma Rousseff e o ódio político. São Paulo: Hedra, 2015. |